"Portanto, ninguém se glorie em homens; porque todas as coisas são de vocês, seja Paulo, seja Apolo, seja Pedro, seja o mundo, a vida, a morte, o presente, ou o futuro; tudo é de vocês, e vocês são de Cristo, e Cristo, de Deus."
PENSE NISTO: "O valor do homem é determinado, em primeira linha, pelo grau e pelo sentido em que se libertou do seu ego!" (Albert Einstein).

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Perfeição Cristã

- por Charles G. Finney

"Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste" Mateus 5:48.

Deus tem dois tipos de perfeição: a natural e a moral. Sua perfeição natural constitui Sua natureza, ou essência, e é Sua eternidade, imutabilidade, onipotência, etc. Essa perfeição é chamada natural, porque não tem um caráter moral. Deus não deu essas características para Si mesmo, porque Ele não criou a Si mesmo, mas existia desde a eternidade, com total possessão desses atributos. Deus possui todos eles em um grau infinito. Essa perfeição natural não é a perfeição requerida. Os atributos de nossa natureza foram criados em nós e não é exigido de nós que produzamos qualquer atributo natural novo. Isto não seria possível. Não é exigido de nós que possuamos qualquer um deles no mesmo grau que Deus os possui.

A perfeição cristã não é estar livre da tentação. Tiago diz: "Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz" (Tg 1.14). O pecado não está na tentação, mas em se render a ela. Uma pessoa pode ser tentada por Satanás, pelos apetites, ou pelo mundo, e, ainda assim, não pecar. Todos os pecados consistem em consentir voluntariamente com os desejos. A perfeição requerida não é a infinita perfeição moral que Deus tem. O homem, sendo uma criatura finita, não está capacitado a ter afeições infinitas. Deus, sendo infinito em Si mesmo, precisa ser infinitamente perfeito. Mas isto não é requerido de nós.

A OBEDIÊNCIA DO AMOR

A perfeição cristã é obediência perfeita à lei de Deus. A lei de Deus requer perfeição, benevolência imparcial e desinteressada, amor a Deus e ao próximo. Ela requer que sejamos motivados pelo mesmo sentimento e atuemos sobre os mesmos princípios que Deus o faz. Precisamos deixar o nosso "eu" fora da questão, tão uniformemente quanto Ele deixa, e sermos tão separados do egoísmo quanto Ele é. Precisamos ser, em proporção humana, tão perfeitos quanto Deus é. O cristianismo requer que façamos nem mais nem menos do que a lei de Deus prescreve. Isto é sermos, moralmente, tão perfeitos quanto Deus.

Está tudo incluído aqui: sentir como Ele sente, amar o que Ele ama e odiar o que Ele odeia, pelas mesmas razões que Ele ama e odeia. Deus ama a Si mesmo com amor benevolente, ou considera o Seu próprio interesse e felicidade como o bem supremo, porque isto é o bem supremo. Ele requer que nós o amemos da mesma maneira. Ele ama a Si mesmo com infinita complacência, porque Ele sabe que é infinitamente digno e excelente; e Ele requer o mesmo de nós. Ele também ama Seu próximo como a Si mesmo, de acordo com seu real valor. Desde o anjo mais importante, até o menor verme, Ele considera sua felicidade com perfeito amor. Deus não pode sair mais dessa regra, do que nós podemos, sem cometer pecado. Para Ele, fazer isto seria muito mais difícil do que para nós, porque Ele é muito maior do que nós. A grande natureza de Deus O obriga a isso. Ele nos criou como seres morais, à Sua própria imagem, capacitados a nos adequarmos às mesmas regras que Ele. Esta regra requer que tenhamos o mesmo caráter que Ele tem: amar imparcialmente, com perfeito amor e buscando o bem dos outros como Ele faz. Isto, e nada menos que isto, é perfeição cristã.

A ordem no texto "sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste" é dada sob o Evangelho. Aqui Cristo ordena a mesma coisa que a lei determina. O Evangelho não requer perfeição como uma condição para a salvação, mas nenhuma parte das obrigações da lei é descartada. O Evangelho traz aqueles que estão sob ele, para a mesma santidade daqueles que estão sob a lei. Deus não pode nos dispensar da obrigação de sermos perfeitos. Se Ele tentasse isto, Ele nos daria uma licença para pecar.

Enquanto somos seres morais, não existe força no universo que possa nos dispensar da obrigação de sermos perfeitos. Deus pode nos dispensar da obrigação de amá-Lo com todo o nosso coração, alma, mente e força? Isto seria dizer que Deus não merece esse amor. E, se Ele não pode nos dispensar da lei como um todo, Ele não pode nos dispensar de nenhuma parte dela, pela mesma razão. Quão perfeitos é exigido que sejamos? Em que parte da Bíblia você encontra uma regra que determine quão menos santo você tem permissão para ser sob o Evangelho, do que seria sob a lei? Poderíamos deixar cada pessoa julgar por si mesma? Você acha que é sua obrigação ser mais perfeito do que você é agora? Você pode dizer: "Agora eu sou perfeito o suficiente; deixei alguns pecados, mas fui o mais longe possível, dentro da minha obrigação de ir neste mundo."? Quanto mais santa a pessoa é, mais fortemente ela sente a obrigação de ser perfeita.

ADEQUANDO-SE À VONTADE DE DEUS

É possível atingir a perfeição cristã nesta vida. Deus nos ordena a sermos perfeitos como Ele é perfeito. Podemos dizer que isto é impossível? Quando Deus ordena alguma coisa, não existe uma possibilidade natural de se fazer o que Ele ordena? Eu me lembro de ouvir um indivíduo dizer que pregava o arrependimento aos pecadores, porque Deus ordena isto; mas ele não pregaria que eles poderiam se arrepender, porque Deus não disse em nenhum lugar que isto era possível. Que falta de senso! Sempre entenda que quando Deus requer alguma coisa dos homens, eles possuem as faculdades para fazê-la. De outra forma, Deus estaria requerendo impossibilidades de nós e estaria mandando pecadores para o inferno, por não fazerem o que não poderiam fazer! Não pode haver dúvidas sobre isto. Perfeição é amar ao Senhor com todo o nosso coração, alma, mente e força, e amar nosso próximo como a nós mesmos. Isto requer que empreguemos nossa própria força. A própria lei não vai além de requerer o uso correto das forças que você possui.

Alguns podem protestar dizendo que, se há uma habilidade natural para ser perfeito, há uma inabilidade moral, o que vem a ser a mesma coisa. Inabilidade é inabilidade, chame da forma que quiser. Se nós temos inabilidade moral, somos tão incapazes como se nossa inabilidade fosse natural. Primeiro, não há maior inabilidade moral para ser perfeitamente santo, do que há para ser santo em um ponto qualquer. Você pode tão facilmente ser perfeitamente santo, quanto você pode ser santo em parte. A verdadeira diferença entre habilidade natural e habilidade moral é esta: a habilidade natural é relativa às forças e faculdades mentais; a habilidade moral é relativa, apenas, à vontade. Inabilidade moral não é nada além de não querer fazer algo. Quando você pergunta se tem habilidade moral para ser perfeito, se você o pode, eu respondo: Não. Se você desejasse ser perfeito, você seria perfeito, pois a perfeição requerida é, apenas, se conformar perfeitamente ao desejo da lei de Deus.

Se, então, você pergunta se está capacitado a desejar corretamente, digo que esta questão implica em uma contradição em supor que possa haver algo, como um agente moral, incapaz de escolher nosso desejo. Não existe essa coisa de inabilidade moral. Quando falamos de inabilidade para fazer algo, mostramos que há uma carência de força. Portanto, dizer que somos incapazes de desejar é absurdo. O caso é uma desesperadora falta de vontade.

Há uma obstinada falta de vontade, nos pecadores, de se tornarem cristãos e nos cristãos, de virem à completa perfeição requerida tanto pela lei, quanto pelo Evangelho. Os pecadores podem querer se tornar cristãos e os cristãos podem desejar serem libertos de todos os seus pecados e podem, até, agonizar em oração para isto. Eles podem pensar que estão desejosos por serem perfeitos, mas eles enganam a si mesmos. Quando os cristãos estão verdadeiramente desejosos de deixarem todo o pecado e não têm nenhum desejo para si mesmos, mas mergulham na vontade de Deus, então suas algemas são quebradas. Quando eles se rendem totalmente à vontade de Deus, então eles são cheios com toda a plenitude de Deus.

A PROMESSA DE SANTIDADE

A questão é esta: eu tenho o direito de esperar ser perfeito neste mundo? Existe alguma razão para eu acreditar que eu possa ser totalmente submetido e amar tanto a Deus, quanto a lei requer? A perfeição é atingível? Eu acredito que é. Muito tem sido dito sobre a perfeição cristã e pessoas que receberam isto caíram em muitas noções devastadoras. Parece que o Diabo antecipou o movimento da Igreja e criou um estado negativo de sentimento. No momento que a doutrina da santificação é apresentada, as pessoas choram: "Por quê? Isto é Perfeccionismo (a idéia de que a perfeição de Jesus foi, de tal forma, imputada a nós, que não podemos pecar)!".

Mas, a despeito dos erros nos quais os perfeccionistas caíram, existe algo dito na Bíblia como perfeição cristã. Todos precisam saber isto. Eu rejeito totalmente as peculiaridades dos perfeccionistas. Li suas publicações e não posso concordar com muitos de seus pontos de vista. Mas a perfeição cristã é uma obrigação e estou convencido de que ela pode ser atingida nesta vida.

Em 1 Tessalonicenses 4.3 nos é dito: "Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação". Se você examinar a Bíblia cuidadosamente, do início ao fim, você encontrará dito claramente que Deus deseja a santidade dos cristãos, da mesma forma que Ele deseja que os pecadores se arrependam. Por que Ele esperaria isto sem motivos? Ele determina isto. Nenhum homem pode mostrar na Bíblia que Deus não determina a perfeita santificação neste mundo, ou que isto não possa ser tão atingível quanto qualquer degrau da santificação. Se você nunca olhou para a Bíblia com esta visão, você ficará admirado em ver que existem muito mais passagens falando da libertação do poder do pecado, do que falando da libertação da punição pelo pecado. As passagens que falam da libertação da punição não são nada, comparadas com as outras.

O que é santificação? Santidade! Quando uma profecia fala da santificação da Igreja, devemos entender que é uma santificação parcial? Quando Deus requer santidade, é santidade parcial? Certamente não! Ele promete santidade! Entendemos as Escrituras de tal maneira, com relação à maneira que as coisas são, que perdemos a noção do significado real. Mas, se olhamos para a linguagem da Bíblia, eu desafio a qualquer homem a provar que a promessa e as profecias de santidade significam qualquer coisa menor do que a perfeita santificação. Santidade é a grande bênção prometida por toda a Bíblia.

Pedro diz: "pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo" (2Pe 1.4). Se isto não é perfeita santificação, o que é? Essas "preciosas e mui grandes promessas" são dadas com esse objetivo e, por crer, apropriar e as usar, podemos nos tornar co-participantes da natureza divina. A promessa da Aliança Abraâmica era que a sua posteridade possuiria a terra de Canaã e que, através dele, pelo Messias, todas as nações seriam abençoadas. O selo da aliança, a circuncisão, nos mostra qual era a principal bênção pretendida: a santidade. Pedro nos diz, em outro lugar, que Jesus Cristo foi dado de tal forma que Ele poderia santificar para Si mesmo um povo distinto (veja 1Pe 2.9).

UM EVANGELHO DE PURIFICAÇÃO

Todas as purificações e outras cerimônias do ritual mosaico significam a mesma coisa; todas elas apontam para um Salvador que estava para vir. Essas ordenanças de purificar o corpo foram dadas, cada uma delas, se referindo à purificação da mente, ou seja, santidade. Sob o Evangelho, a mesma coisa é representada pelo batismo: a lavagem do corpo representa a santificação da mente.

Ezequiel 36.25-27 promete a grande bênção do Evangelho: "Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis". É o mesmo em Jeremias 33.8: "Purificá-los-ei de toda a sua iniqüidade com que pecaram contra mim; e perdoarei todas as suas iniqüidades com que pecaram e transgrediram contra mim".

Busquem na Bíblia, por vocês mesmos, e ficarão admirados ao acharem quão uniformemente a bênção da santificação é sustentada como a principal bênção prometida ao mundo através do Messias. O grande objetivo da vinda do Messias era o de santificar seu povo! Logo após a queda foi profetizado que Satanás morderia o Seu calcanhar, mas que Ele pisaria na cabeça de Satanás. E João nos diz: "...Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do Diabo" (1Jo 3.8). Jesus colocou Satanás sob Seus pés. Seu propósito é nos reconduzir à nossa fidelidade a Deus, nos santificar e purificar nossas mentes. Como é dito em Zacarias 13.1: "Naquele dia, haverá uma fonte aberta para a casa de Davi e para os habitantes de Jerusalém, para remover o pecado e a impureza". No Novo Testamento nos é dito que o Salvador foi chamado "...Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles" (Mt 1.21). E: "...ele se manifestou para tirar os pecados...para destruir as obras do Diabo" (1Jo 3.5,8).

Paulo fala da graça de Deus, ou do Evangelho, como que nos ensinando a negar o pecado: "aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras" (Tt 2.13-14). Em Efésios aprendemos que "...Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito" (Ef 5.25-27).

Cristo veio para santificar a Igreja a tal ponto, que ela venha a ser absolutamente "santa e sem mácula". "E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades. Esta é a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados" (Rm 11.26-27). Em 1 João 1.9 é dito: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça". O que é "nos purificar de toda injustiça", se não é santificação perfeita? Em 1 Tessalonicenses 5.23, Paulo faz uma oração extraordinária: "O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo". O que significa "vos santifique em tudo"? Significa santidade perfeita? O apóstolo diz que não apenas sua alma e seu espírito, mas que o seu "corpo seja conservado íntegro". Um apóstolo inspirado poderia fazer esse tipo de oração, se não acreditasse que a benção fosse possível? Ele vai adiante ao dizer no verso seguinte: "Fiel é o que vos chama, o qual também o fará" (1Ts 5.24).

O PODER DO ESPÍRITO SANTO

A santidade perfeita nos crentes é o objetivo do Espírito Santo. Todo o conteúdo das Escrituras a respeito do Espírito Santo prova isto. Todos os mandamentos para ser santo, as promessas, as profecias, as bênçãos, os juízos e as obrigações da religião são meios que o Espírito Santo emprega para santificar a Igreja. Se não é praticável ser perfeitamente santo, então o Diabo consumou tão completamente seu desígnio de corromper a humanidade, que Jesus Cristo está em falta e não tem como santificar Seu povo, senão o retirando do mundo. É possível que Satanás tenha vantagem sobre Deus? O Reino de Deus está para ser estabelecido apenas parcialmente e os santos devem gastar metade de seu tempo servindo ao Diabo? Se a santidade não pode ser atingida neste mundo, isto é por uma falta de razões no Evangelho, ou por falta de poder no Espírito de Deus. Em outra vida podemos ser como Deus, porque nós O veremos como Ele é. Mas, por que não aqui, se temos a fé que é "...a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem" (Hb 11.1)?

Há uma promessa para aqueles que "têm fome e sede de justiça", de que "serão fartos" (veja Mt 5.6). O que é ser "farto" de justiça, senão ser perfeitamente santo? Vamos passar pela vida famintos, sedentos e insatisfeitos? Se a força do hábito pode ser de tal forma desrespeitada, a ponto de um pecador impenitente ser convertido, por que ela não pode ser definitivamente quebrada, de forma que uma pessoa convertida seja totalmente santificada? A maior dificuldade é quando o egoísmo tem o controle da mente e os hábitos do pecado não são definitivamente quebrados. Este obstáculo é grande e nenhuma força, apenas o Espírito Santo pode superá-lo; e, em muitas circunstâncias, o próprio Deus não pode, sendo consistente com Sua sabedoria, usar os meios necessários para converter a alma. Mas depois que Ele tiver quebrado a força do egoísmo, a obstinação do hábito e, então, tiver convertido o indivíduo, Deus tem recursos suficientes para santificar a alma de forma completa!

Os homens pensam que têm fixados em si mesmos apetites e influências físicas que, acreditam eles, são impossíveis de serem superados por meios morais. Paulo, no sétimo capítulo de Romanos, descreve um homem em grande conflito com o corpo. Mas, no capítulo seguinte, ele fala de alguém que obteve vitória sobre a carne. "Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa da justiça. Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita"(Rm 8.10-11).

Esse vivificar o corpo é a influência do Espírito de Deus sobre o corpo, a santificação do corpo. Aí você pergunta: "O Espírito de Deus produz uma mudança física no corpo?". Vou ilustrar isto através do caso do alcoólatra. O alcoólatra trouxe sobre si mesmo um estado doentio, um desejo não natural tão forte, que parece impossível que ele seja recuperado e supere inteiramente esse apetite físico. Ouvi casos onde alcoólatras foram levados a ver o pecado do alcoolismo de uma forma tão clara, que eles se enojaram de bebidas fortes e nunca mais tiveram o menor desejo por elas. Certa vez, conheci um indivíduo que era escravo do tabagismo. Um dia, ele ficou convencido que fumar era um pecado. A luta contra isso finalmente o levou a Deus, em tal agonia de oração, que ele obteve a vitória definitiva sobre o apetite e nunca mais teve a menor vontade de fumar novamente.

Não estou, agora, apresentando filosofias, mas fatos. Ouvi sobre pessoas sobre as quais uma vida de pecados tinha o total controle, mas, em tempo de reavivamento, elas se submeteram e seus apetites morreram. A mente pode estar ocupada e absorvida com grandes coisas, nunca dando nenhum pensamento para as coisas que pudessem reavivar os apetites pelos vícios. Qualquer apetite do corpo pode ser submetido, se for dada a noção devida para a mente quebrá-lo. Já teve vezes em que algo apaixonante encheu a sua mente e controlou a sua alma, de modo que os apetites do corpo ficaram totalmente neutralizados por um tempo? Suponha que esse estado mental se torne constante. Todas essas dificuldades físicas, que ficam no caminho da santidade perfeita, não seriam superadas? "Pois a lei nunca aperfeiçoou coisa alguma", mas, sim, uma "esperança superior" (veja Hb 7.19).

QUEM ESTABELECE O PADRÃO?

Paulo diz: "Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição" (Fp 3.12). Mas não é dito que ele continuou assim até sua morte, ou que ele nunca obteve a perfeita santificação. A maneira que ele fala no restante do versículo indica que ele tinha a expectativa de se tornar perfeitamente santo: "mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus" (Fp 3.12). João fala de si mesmo como se ele tivesse amado a Deus perfeitamente. Mas, mesmo que os apóstolos não fossem perfeitos, isto não significa que os outros não possam ser. Claramente eles declaravam que a santidade era sua obrigação e almejavam isto, como se esperassem obtê-la nesta vida. Eles determinam que façamos o mesmo.

Por que a Igreja não está crescendo com mais qualidade? Parece que está prevalecendo a idéia de que a Igreja deve olhar para trás, para os primeiros santos, como padrão. Penso que o contrário é verdadeiro. Devemos almejar um padrão bem mais alto que eles. Creio que muitos santos obtiveram a santidade perfeita. Enoque e Elias provavelmente foram libertos do pecado, antes de serem tirados do mundo. Em diferentes épocas houve quantidades de cristãos que foram justos e não tinham nada contra eles. Os homens declaram que ninguém diria que está livre do pecado por outro motivo que não seja o orgulho. Mas, sendo assim, por que um homem não pode dizer que está livre do pecado, sem ser orgulhoso? Ele pode dizer que é convertido sem ser orgulhoso! Os santos não dirão isto no céu, para louvor da graça de Deus? Então, por que eles não podem dizer isto agora, pelo mesmo motivo? Não digo agora que atingi a santificação perfeita, mas, se a tivesse atingido (se eu sentisse que Deus me deu a vitória sobre o mundo, a carne e o Diabo, e tivesse me libertado do pecado), eu a manteria em segredo e deixaria meus irmãos tropeçarem ignorando o que a graça de Deus pode fazer? Nunca! Eu diria a eles que poderiam esperar completa libertação, se eles, apenas, se colocassem à disposição de Cristo. Ele veio para salvar Sua gente de seus pecados.

Recentemente li "A Plain Account of Christian Perfection" (Explicação Clara da Perfeição Cristã) de John Wesley. Gostaria que cada membro da Igreja o lesse. Também recomendaria as memórias de James Brainerd Taylor (missionário norte-americano/séc. XIX - N.T.). Eu o li três vezes em poucos meses. Fica claro que ele acreditava que a perfeição cristã é uma obrigação e pode ser atingida pelos crentes nesta vida.

Algumas vezes se ouve pessoas argumentando contra a perfeição cristã tendo por base que o homem que fosse perfeitamente santo não poderia existir neste mundo. As pessoas pensam que, se alguém fosse perfeitamente santificado e amasse perfeitamente a Deus, ele estaria em tal estado de excitação, que não poderia ficar no corpo, comer, dormir, ou cuidar das obrigações da vida. Mas o Senhor Jesus Cristo foi um homem, sujeito a todas as tentações dos outros homens. Ele também amou a Deus com todo o Seu coração, alma e força. Mas Ele não estava em um estado de excitação no qual Ele não pudesse comer, dormir, ou trabalhar no Seu negócio como carpinteiro.

ACEITANDO A GRAÇA DE DEUS

Os cristãos não crêem que Deus deseja que eles sejam perfeitamente santificados neste mundo. Eles sabem que Ele os ordena a serem perfeitos, como Ele é perfeito. Mas eles pensam que, secretamente, Ele não deseja isso. Eles dizem: "Por que Ele não faz mais para nos tornar perfeitos?". Os pecadores raciocinam da mesma forma. Eles dizem: "Não acredito que Ele queira o meu arrependimento; se Ele quisesse, Ele faria com que eu me arrependesse!". Deus pode preferir sua contínua impenitência e condenação, do que usar influências diferentes daquelas que Ele usa para trazê-los ao arrependimento. Se Deus fosse trazer todo o poder de Seu governo para o exibir a um indivíduo, Ele poderia salvá-lo. Mas, ao mesmo tempo, isto desordenaria o Seu governo de tal forma, que isso seria uma maldade maior do que a desse indivíduo ir para o inferno.

Da mesma forma, Deus forneceu aos cristãos todos os meios para a santificação e quer que eles sejam perfeitos. Ele deseja que eles façam exatamente o que Ele os ordena a fazer. Ficar faminto ou sedento depois da santificação não é santidade. O desejo por uma coisa não é a coisa desejada. Se eles ficam famintos e sedentos depois da santificação, eles não devem dar nenhum descanso a Deus até Ele cumprir Sua promessa de que eles serão perfeitamente santificados. Os cristãos pensam que eles devem permanecer no pecado e tudo o que esperam é perdão e santidade no céu. Mas toda a estrutura do Evangelho foi construída para quebrar o poder do pecado e encher os homens com toda a plenitude de Deus. Se a Igreja lesse a Bíblia e tomasse posse de todas as promessas, ela as consideraria grandes e preciosas.

Quantos estão buscando santidade com suas próprias soluções e obras (seus jejuns, orações e atividades), ao invés de tomar posse de Cristo pela fé! Isto é tudo obra, quando deveria ser por fé em "Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção" (1Co 1.30). Quando eles tomam posse da força de Deus, eles são santificados. A fé trará a Cristo direto para a alma e a encherá com o mesmo Espírito que sopra através dEle. Essas obras mortas não são nada. A fé precisa santificar e purificar o coração. A fé é a certeza de coisas que se esperam e traz Jesus para a alma. A vida que vivemos aqui deve ser pela fé no Filho de Deus. É por não saber, ou não considerar isto, que há tão pouca santidade na Igreja.

Ao invés de buscar uma visão bíblica de suas dependências, para ver onde está a sua força e perceber o quanto Deus está desejoso em dar Seu Espírito Santo para aqueles que O pedem, muitos cristãos se assentam na incredulidade e no pecado para "esperar pelo tempo de Deus". Eles chamam isto de "depender de Deus". O Espírito Santo está aí com poder para ensinar, guiar, santificar, despertar as afeições e encher continuamente a alma com toda a plenitude de Deus! Entregue sua alma ao Seu controle e coloque-se nos braços de Deus. Sua graça é suficiente!

Traduzido por René Burkhardt

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