"Portanto, ninguém se glorie em homens; porque todas as coisas são de vocês, seja Paulo, seja Apolo, seja Pedro, seja o mundo, a vida, a morte, o presente, ou o futuro; tudo é de vocês, e vocês são de Cristo, e Cristo, de Deus."
PENSE NISTO: "O valor do homem é determinado, em primeira linha, pelo grau e pelo sentido em que se libertou do seu ego!" (Albert Einstein).

sexta-feira, 2 de abril de 2010

O Estojo Branco

- por Barbara Romine (editora-chefe do The Berean Call)


“O que você tem é chamado de câncer invasivo tratável”. O restante da visita do médico foi um tanto nublado. Me lembro de sua gentileza, quando falou sobre a possibilidade de envolvimento de linfonodos, e cirurgias, e planos de tratamento. Ele me disse qual era o tamanho do tumor e minhas opções. Minha filha Melissa se sentou lá, dedicadamente, fazendo anotações por mim, sabendo que eu não estava captando as coisas muito bem. Passei pelo restante das instruções lutando contra as lágrimas e o pânico. Então a coordenadora dos cuidados com os seios entrou, segurando um estojo branco, com uma fita rosa, que ela me deu com instruções e uma lista de indicações que ela já havia preparado com um oncologista e outros médicos.

Quando voltei para casa, abri o estojo branco cuidadosamente. Dentro havia um DVD, uma vela aromática, um sachê de lavanda, alguns chocolates, um pacote de lenços umedecidos, um pequeno livro, e uma lista de centros-de-ajuda locais para pacientes de câncer, inclusive onde conseguir roupas íntimas especiais e perucas. Quase sem fôlego, fechei o estojo rapidamente. Lágrimas vieram novamente. Eram coisas demais para pensar.

Alguns dias depois, e seguindo algumas outras instruções, sentei na cama e me aventurei com o estojo novamente. Dessa vez, tirei o livreto que descrevia com o que uma mastectomia se parece e os cuidados a serem tomados em casa. O livro explicava que eu precisaria de ajuda com algumas coisas, por pouco tempo, inclusive cuidados com um dreno, que seria colocado durante a cirurgia, para livrar o tórax do excesso de fluidos. O livreto incluía ilustrações de uma mulher demonstrando o esvaziamento do dreno. De forma simples, a imagem não era repulsiva, mas o impacto foi tremendo. Lá estava ela, com um seio, de um lado, e uma linha reta, onde o outro costumava estar. Pelo que há de mais sagrado, aquilo me pareceu como as placas de “Proibido”: Proibido fumar! Proibido cães! Proibido seios! Lutando contra o enjôo, fechei o livreto, coloquei-o de volta no estojo, e chorei: “Senhor, não quero ser aquela mulher! Não posso ser ela! Não posso passar por isso!”.

Chorando muito, busquei pelo consolo do Senhor. Passei por muitas coisas no passado e sempre O encontrei fiel. Eu sabia que Ele havia permitido isso, mas não fazia nenhum sentido para mim. O que eu tinha que aprender? Por que agora? Ele parecia estar tão silencioso. Coloquei o estojo com a fita rosa de baixo da cama, odiando até mesmo a sombra dele.

Quando comecei a sentir dor em meu seio, ignorei isso por várias semanas. Poucos meses antes, eu tinha feito uma mamografia que estava normal. Além disto, eu estive ajudando minha irmã mais nova, por aquela época, que estava indo à quimioterapia para um câncer no seio, e eu tinha certeza de que estava tendo “dores por afinidade”, ou cuidados em excesso, ou qualquer coisa do gênero. Mas, então, eu descobri o nódulo – bastante perceptível. Como eu não o encontrei antes? Fiz uma consulta com meu médico e tentei não pensar o pior. “Levando cativo todo pensamento...”. Não era isso que dizia 2 Coríntios 10.5? Mas meu médico ficou preocupado. Sua assistente me deu um abraço e marcou outra mamografia. Ainda não tão preocupada (quais eram as “chances” de que minha irmã, que era dez anos mais nova, e eu tivéssemos essa coisa ao mesmo tempo?), fui para o exame. Ele não pareceu bom. “Mais tarde”, me disseram, “teremos uma sala pronta para fazer um ultrassom”. Depois de feito, a radiologista me disse que o nódulo era “preocupante” e explicou o porquê. Mas eu estava tentando não me angustiar, “levando cativo todo pensamento...” e tudo o mais. Isso se tornou o meu lema. Ela me encaminhou para uma biópsia no final daquela tarde e para uma ressonância magnética, no dia seguinte. Fui para casa para esperar... e para orar.

Então, fui rapidamente levada a dar uma revisada nas recomendações do médico, e decisões, e preparações. Alguns dias depois, eu tinha deixado o estojo de lado e me aventurei na internet, assistindo corajosamente imagens de pós-operatório. Puxei o estojo branco de baixo da cama e assisti ao DVD, com suas histórias de outras mulheres que tinham câncer. De novo, o enjôo inundou o meu ser e também o sentimento de que isso não era real. Abalada e com medo, liguei para minha amiga. Contei para ela o que vi e sobre meu medo e a falta de vontade de passar por quaisquer dessas coisas. Gentilmente, ela me lembrou que o Senhor nos dá força para este dia (Mt 6.34) e que, junto com levar cativo todo pensamento (2Co 10.5), não devemos andar “ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (Fp 4.6-7).

Eu sabia tudo isso. Eu estava tentando associar essas coisas o tempo todo, mas, por alguma razão, tinha sido incapaz de entender o verdadeiro significado, para aplicá-lo às minhas circunstâncias. Eu já tinha câncer? Isso não era mais uma vã imaginação, mas uma realidade. A cirurgia por vir e tudo o que eu tinha visto, que se seguiria, era iminente. Mas, de repente, com suas palavras, minha amiga havia me lembrado de algo que eu havia esquecido. Eu não podia aplicar as Escrituras apenas como uma fórmula, negando o que eu sabia que era verdade. Esses acontecimentos estavam chegando, mas eles ainda não estavam aqui. Eu não podia me agarrar à Graça de Deus, que seria derramada para esses momentos, enquanto eu não chegasse a esses momentos. Eu tinha que me lembrar de viver o “agora” com o Senhor. E, de repente, eu tive paz. Então eu pude descansar onde o Senhor me tinha, sem olhar para o que vinha à frente. Finalmente, Deus havia entrado em mim.

Na manhã da minha cirurgia, o Senhor me levou a Romanos 12.1: “apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”. Eu sempre entendi esse versículo como significando “apresente sua vida, suas obras, seus bens”. Naquela manhã, em particular, as palavras tiveram um som diferente: “apresente o seu corpo...”. Eu poderia fazer isso? Eu poderia ir para essa operação como se não estivesse sendo levada à força, ou por circunstâncias, mas confiando que Deus estava me levando a isso? Eu poderia dar o meu corpo de bom grado a Ele, não importando o que poderia acontecer depois?

Sentadas na sala de preparação, antes da cirurgia, minhas duas irmãs e eu tivemos uma pequena conversa, enquanto enfermeiras e assistentes entravam e saíam, fazendo diversas tarefas. Oramos juntas e, então, o anestesista me acompanhou para a sala de cirurgia. Tive que andar carregando a haste com o meu soro e, enquanto o fazia, visualizei Abraão e Isaque subindo o monte para um acontecimento inimaginável, mas cheios de confiança na bondade de Deus. Na sala de cirurgia, subi na mesa de operação e deitei. Por um breve momento, antes que toda minha percepção se dissolvesse em uma escuridão induzida pela anestesia, me imaginei deitada em um altar diante de meu Pai, em Quem confiei e o Qual amei além de qualquer coisa, naquele momento.

Mais tarde, fiquei surpresa ao descobrir o quão profunda e abrangente é a Graça de Deus. O pânico que havia sentido antecipadamente, olhando para as imagens e pensando à frente do momento certo, não existia mais. Desconforto? Sim! Uma cicatriz feia? Sem palavras! Mas, acima dessas “tribulações”, havia uma paz tão inacreditável, que eu ainda estava admirada com ela. A delicadeza do Senhor em Seu cuidado comigo, em Sua provisão dos médicos certos para cada situação, no oferecimento de minha amiga (uma enfermeira formada) para vir e ficar comigo por vários dias depois da cirurgia, através do amor de meus filhos ao me telefonarem e me visitarem, nas orações e jejuns de meus amigos, e, acima de tudo, na compreensão de que eu sabia, de todo meu coração, que eu pertencia a Jesus, de corpo e alma. Descobri que a Sua Graça é suficiente para todas as necessidades e que Ele a providencia, a cada momento. Seus propósitos são Seus – não preciso questionar o que Ele está fazendo.

Estou curada? Não sei. O diagnóstico é bom, mas o oncologista disse que a doença pode voltar a qualquer momento, mais adiante. Assim, eu tomo o medicamento indicado para ajudar a preveni-la, mas eu não confio no medicamento, ou em médicos, ou em mim mesma. Eu confio no Senhor, pois, não importa o que esteja adiante, Sua graça e força estarão lá para mim, no exato momento em que necessitar delas! E, além disso tudo, essa “leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória” (2Co 4.17). Quem poderia querer mais do que isso? Vou acrescentar este versículo das Escrituras no estojo branco embaixo da minha cama.


Extraído de
http://www.thebereancall.org/node/8469
Traduzido por René Burkhardt

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