Eis aí o discipulado descrito por completo, do início ao fim!
Não há teologias! Não há conhecimento prévio de Quem é Jesus! Não há cumprimento de leis! Não há apego às “certezas” da vida e à sua comodidade!
Tudo que existe é o chamado pessoal de Jesus e a obediência da pessoa chamada! É isto mesmo: a obediência ao “siga-me” é o primeiro passo, seja pelo motivo que for! Os evangelhos nos dão conta disto, ao nos trazerem um pouco da história dos discípulos. Ali, percebemos que havia diferentes motivações entre eles, mas havia esse ponto comum a todos: a obediência de seguir a Jesus, quando chamados.
Esse chamado, que se mantém através do Espírito de Cristo, agora estendido a todas as pessoas, continua o mesmo: é um chamado à vida sem um roteiro pré-estabelecido; não há certezas! Pelo contrário: o que existe é um caminho apertado, de dúvidas, de incertezas, rumo ao desconhecido!
É um chamado que nos leva a largarmos tudo o que vivemos, até então, e a focarmos só e unicamente no Cristo, no Filho de Deus, no próprio Deus que Se tornou Homem. A meta, agora, é segui-Lo em cada passo Seu, aprendendo com Ele e imitando cada olhar, cada toque, cada abraço, cada acolhimento, cada atitude, cada comunhão, cada palavra, que Ele faz e diz! Agora, descartamos todas as fôrmas conhecidas, criadas e impostas pelo homem, que tentam encaixotar o Espírito!
E sem o “Siga-me” pessoal de Jesus, não adianta darmos nem um passo em Sua direção!
“Indo eles caminho fora, alguém lhe disse: Seguir-te-ei para onde quer que fores. Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.
A outro disse Jesus: Segue-me! Ele, porém, respondeu: Permite-me ir primeiro sepultar meu pai. Mas Jesus insistiu: Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. Tu, porém, vai e prega o reino de Deus.
Outro lhe disse: Seguir-te-ei, Senhor; mas deixa-me primeiro despedir-me dos de casa. Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que olha para trás, tendo posto a mão no arado, é apto para o reino de Deus” (Lc 9.57-62).
Essa passagem é a indicação de Jesus sobre a necessidade do Seu chamado, para sermos Seus discípulos. Mais do que isto, é uma demonstração da insanidade humana em tentar segui-Lo, sem que Ele chame, e da inutilidade do emprego de fôrmas ou leis como demonstração da capacidade própria de andar em Seu caminho:
No primeiro caso, a pessoa aborda a Jesus e diz que O seguirá a qualquer lugar. Imediatamente, Jesus demonstra que essa pessoa não tem a mínima noção do que está dizendo: Jesus fala da instabilidade e da incerteza de Seu caminho, que é em direção à Cruz, em direção ao sofrimento e ninguém tem como querer isto pra si mesmo!
Logo depois, é Jesus Quem chama uma pessoa. E a pessoa aceita o convite! Mas esta, provavelmente por conta da tradição humana da qual ouviu falar, pensa que precisa, primeiro, se preparar para seguir a Jesus! Ela acha que deve, antes de tudo, cumprir a Lei para, então, estar apta a seguir o Seu caminho. E Jesus diz a ela: “Dane-se a Lei! Seu compromisso é comigo; seu relacionamento, agora, é direto comigo; Eu vou falar diretamente com você, vou lhe ensinar tudo o que você precisa saber, vou lhe mostrar por onde ir e como agir!”.
“Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei no seu coração as minhas leis e sobre a sua mente as inscreverei. Portanto, por um lado, se revoga a anterior ordenança, por causa de sua fraqueza e inutilidade (pois a lei nunca aperfeiçoou coisa alguma), e, por outro lado, se introduz esperança superior, pela qual nos chegamos a Deus” (Hebreus).
Por fim, o terceiro caso, onde a pessoa também diz que quer seguir a Jesus, sem ser chamada, e demonstra uma insanidade ainda maior que a primeira: além de não ter idéia do que teria pela frente como discípula, ela quer que o discipulado seja de acordo com a sua vontade, com as suas imposições, sem estar disposta a abrir mão de sua vida, sua segurança, suas certezas, e parece sonhar com viagens maravilhosas, cercadas de conforto, sob a tutela de um guru que irá providenciar todas as coisas para o seu bem-estar!
E Jesus rejeita isto! Com Sua resposta, Ele diz que não pode haver nada entre o chamado, o próprio Jesus, e a obediência, para que haja o discipulado! Não pode haver condições e nem leis entre Jesus e o discípulo. Se houver, deixa de ser discipulado, passando a ser um programa de vida de acordo com a vontade humana! Uma religiosidade!
Discipulado é compromisso única e exclusivamente com Jesus! Ao “Siga-me” segue-se o “levantou e O seguiu”, sem ponderações, sem questionamentos, sem condições. Discipulado é novidade de vida, largando-se o que até então se viveu! Isto não é uma auto-santificação, mas uma mudança de foco, de prioridades, de meta! Discipulado é caminhar com Jesus, aprendendo e sendo direcionado por Seu Espírito!
4 comentários:
Então, René...
Esse chamado à vida sem um roteiro pré-estabelecido é o que deixa os religiosos intrigados. Eles precisam fazer alguma coisa. Se não fizerem algo, não terão 'merecimento' celestial.
O religioso não suporta esse 'desconhecido'. Ele quer saber onde está pisando, literalmente, daí erguer templos sólidos e maciços. Então, ali ele aprisiona Deus. E tome cerimonialismo pra cima! E daí ele não saber o que é fé e apenas crença.
Você bem disse: textos complementares, "O fio da meada", o de Peter Rollins no 'Bacia das Almas' e este!
E que texto este, heim? Valeu pela beleza, pela maestria e pela musicalidade dessa poesia em prosa.
Quem tiver olhos para ler, leia.
Em Cristo,
R.
É isso mesmo, Rê,
O ser humano está acostumado a 'fazer alguma coisa', pra alcançar aquilo que deseja. E pensa que é assim pra se chegar a Deus também!
Essa simplicidade do Evangelho, "Segue-me", é um monstro multifacetado e horripilante, do qual se quer a maior distância possível! "Não é possível enfrentá-lo"! "Se não for do meu jeito, não serve! Está errado"! "Precisamos criar fronteiras, limites, que nos permitam saber onde estamos"!
É bem por aí...
Abração e continue na Paz!
Querido amigo,
Parabéns pelo texto, muito necessário. Esse é o entendimento que muitos não compreendem. Sem essa certeza do chamado, não adianta insistir. Por essa razão há tantos equivocados, buscando nem sabem o que, pulando de igreja em igreja, mas sem nunca terem sido de fato a Igreja - a qual não é uma edificação, mas é formada por pelos chamados, que estão edificados em Cristo.
Um forte abraço,
na graça e paz de Jesus!
Pois é, Alan,
Se, ao invés de pularem de igreja em igreja, de religião em religião, de homem em homem, essas pessoas se dirigissem diretamente ao Deus Pai e Criador, pedindo que Ele os levasse à Verdade, Jesus, tenho certeza que Ele, em Sua misericórdia e em Seu amor, os levaria...
Saudades, amigão!!!
Forte abraço e continue na Paz!
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