- por Caio Fábio D'Araújo Filho
O que Jesus veio fazer neste mundo teria falhado? Sim, é justo que se pergunte isto ante o que Sua mensagem e feitos [...] realizaram na experiência da existência histórica dos humanos ou coletivamente na História humana?
É verdade que Ele disse que o mundo odiaria a Sua Palavra e aos que por ela vivessem; e também que a melhor chance que o mundo teria de crer que Ele fora enviado pelo Pai seria mediante a prática simples do amor entre os Seus seguidores; e mais: é também verdade que Ele parecia crer que quando Ele voltasse outra vez [o Filho do Homem], não haveria fé na Terra.
Também é verdade que Ele disse que o Seu Caminho/Porta era estreito, e que apenas poucos entrariam por ele; e também é fato que nas Suas mensagens proféticas não se encontra nenhum traço de “vitória” associada ao que Ele chamou de “minha Igreja” [...] como ente a impor-se sobre o mundo.
É ainda inequívoco que Ele tenha dito que o futuro não aguardava os Seus discípulos com nenhuma Era de Paz e de Amor entre os homens; ao contrário, as Sua Palavras nos falam de ódio, divisão, de irmão entregando irmão; de casas divididas; dos inimigos do homem serem os da sua própria casa; e que Ele mesmo não viera trazer paz à Terra, mas espada.
Sim, a leitura das Palavras de Jesus não nos acende na alma a esperança de controlarmos os poderes do mundo, nem das nações, e nem da Civilização humana; antes disso, nos indica um caminho de fé entre poucos, uma vereda discreta, um pequenino rebanho, algo como o voar de vagalumes na escuridão da noite.
Nos evangelhos não encontramos essa Palavra de Vitória de Jesus sobre os Poderes da História, sobre o Mundo; e nem tampouco qualquer insinuação de que a Sua Igreja seria vitoriosa sobre as forças do Príncipe deste mundo como fenômeno de supremacia do bem sobre o mal.
Não, nem os evangelhos e nem o Apocalipse nos descrevem tais cenários. Portanto, outra vez, pergunto: de onde, pois, eles nos vieram, ao ponto de que hoje pensemos que alguma coisa tenha falhado?
Até ao 4º Século desta Era nenhum discípulo cria que viveria para ver a Igreja ser qualquer coisa além de um Fermento, uma Luz, um Sal na vastidão da terra, um Pequeno Rebanho entre Lobos, uma pequena Semente que cresceria como sombra e lugar de agasalho; mas não de triunfo.
Ora, e isto tudo ainda em meio a divisões internas, a apostasias, a negações, perversões e mortes espirituais de muitos grupos que, antes haviam crido, mas que, ante a imposição “da espera” [...] perderiam a fé; e, portanto, escandalizar-se-iam, trairiam, desistiriam; ou, então, tornar-se-iam “maus” e aproveitadores dos demais — conforme várias parábolas de Mateus, Marcos e Lucas nos deixam ver...
Todavia, o paradigma foi mudado para sempre nas falsificações das esperanças da Igreja que foi virando “igreja”, quando o Império Romano ungiu a “Igreja” e criou o “Cristianismo” como poder terrestre e mundano.
É daí que vem esse surto de Vitória Visível da Igreja de Jesus na Terra; e, consequentemente, a busca por tal poder entre os homens —; ou, em meio á frustração de não conseguir realizá-lo, a não ser pela espada e pelas forças do Príncipe deste mundo, vem a descrença, o sentimento de fracasso, de inviabilidade do Evangelho e da Igreja no mundo; instalam-se como descrença e cinismo na alma dos que antes criam e amavam.
Sim; tal sentimento decorre de que a Igreja passou a pensar como “igreja”, e de que o Evangelho tenha sido entendido como uma revolução inescapável a impor-se sobre os principados e potestades dos sistemas do planeta.
Desse modo, cada novo cristão se converte crendo que sua geração mudará o mundo; e que o que não aconteceu no passado, acontecerá hoje; e mais: crendo que a “vitória” da Igreja sobre o Império Romano provou tal possibilidade [...]; não enxergando eles jamais o oposto; ou seja: que, ali, naquela virada [ou melhor: naquela emborcada], quem estava sendo definitivamente derrotada era aquilo que até então, com todos os problemas previstos nas profecias, era, na sua fraqueza, forte; e na sua fragilidade e falta de densidade, invencível; a saber: a Igreja na sua melhor expressão histórica até então.
Sim, o Imperador Constantino se tornou o pai do sonho de supremacia da Igreja sobre o mundo; e, desde então, todos os grupos cristãos anelam pela volta de tais dias, ou mesmo pela reimplantação deles na sua geração. Daí os cristãos terem-se por tão honrados quando um governador se “converte”, ou quando uma “autoridade eclesiástica” é elevada de maneira pública, ou quando à “igreja” um poder politico atribua importância, significado e força histórica.
Jesus, todavia, nunca nos deu a menor margem de crença em tais coisas até ao fim. Jamais! O que Nele vemos é que apesar de tudo a Igreja não seria destruída e que as Portas do Inferno não prevaleceriam contra ela; mas, em momento algum, se vê Jesus afirmando que a Sua Igreja criaria um Milênio; algo como um impor da verdade e do amor sobre as forças do mundo e da história; ou ainda que ela tornar-se-ia reconhecida como o Oráculo divino falando aos homens.
Ao contrário, ao ouvirmos o que Jesus disse, o que percebemos é que tais possibilidades de “vitória” sempre seriam sinais de apostasia da fé; sempre seriam a declaração de que se teria aceito a cooptação das forças do Príncipe deste mundo; sempre seria algo que apenas nos poria no lugar de ungir a Besta no papel de um Falso Profeta.
Para Jesus, o reino de Deus não se manifestaria com demonstrações visíveis, mas invisíveis e interiores; seria um poder no olhar, no espírito, na existencialidade; seria algo somente discernível por quem tivesse nascido da água e do espírito; e que aconteceria sempre sob o signo do desprezo e das muitas batalhas.
Quanto a não permitir que qualquer impressão de supremacia da Igreja como Potestade se instalasse na mente dos Seus discípulos, Ele afirmou: “Não será assim entre vós; antes, o maior seja o menor; o grande seja o que sirva; o poderoso seja o fraco do amor e da entrega”. E, lhes lavando os pés, disse: “Compreendeis o que vos fiz? Eu vos dei o exemplo!”.
Pedro já advertia os discípulos dos seus dias, e que começavam a sofrer e a perguntar quando seria o tempo da vitória, dizendo-lhes que não lhes parecesse que algo teria dado errado, posto que o Senhor lhes garantisse que seria como estava justamente acontecendo...; e disse também que por tal equivoco de esperança surgiriam muitos perguntando “onde está a esperança da Sua vinda?”; ou mesmo indagariam acerca do “poder da Sua Presença” entre os homens...; visto que tudo continuara como desde o principio da criação que se pervertera.
Em Mateus 24 e 25 todas as Parábolas de Jesus nos falam de uma “espera” devastadora e desalentadora; de tal modo que alguns ficariam “maus e abusivos”, outros “dormiriam de desesperança”, outros “enterrariam seus dons de amor”, outros somente O veriam em “cenários sagrados” ou predeterminados; daí não serem capazes de vê-Lo entre os pobres, marginalizados, desterrados, doentes, abandonados e não desejados desta existência.
O fenômeno da Hermenêutica Constantiniana de interpretação do significado histórico da “Igreja” foi algo tão poderoso, e continua a ser, que, para muitos, parece que a mensagem de Jesus falhou; especialmente agora, quando o mundo se torna pós-cristão; ou seja: torna-se pós-constantiniano.
Jesus, no entanto, nos disse que a Igreja estaria aqui; e que testemunharia; e que morreria; e que não desistiria; e que não seria enganada; e que não viveria de contabilidades de poder humano; mas da força do Espírito e do olhar do Reino instalado nos corações de todos os que viram e entraram no Mistério do Indiscernível do Reino de Deus em sua atual manifestação não disponível ao mundo.
Enquanto isto [...], Jesus disse que o Espírito sopra aonde quer... [...], e que ninguém sabe de onde Ele vem ou para onde Ele vai... [...]; mostrando-nos assim que a Igreja é um ente levado [...]; e que para além do que ela própria veja [...], existe o que somente Deus vê; coisas essas nas quais os discípulos têm apenas que crer; crer enquanto servem, amam, esperam, se entregam, se sacrificam; nunca se deixando vencer do mal, mas sempre vencendo, em suas vidas, o mal com o bem.
É, portanto, o espírito do mundo, de Satanás, do Príncipe que oferece poderes terrenos [...] — aquele nos lança em surtos de “vitória terrena da Igreja” sobre as aparentes forças da História.
É a mesma voz que se fez ouvir no “alto monte” ou no Capitólio Romano nos dias de Constantino [...] a nos falar que existe um mundo a ser “conquistado” pela Igreja de Deus!
Para a verdadeira Igreja de Deus este mundo, com seus poderes, é apenas o lugar da morte, do sacrifício, do testemunho, do amor não correspondido e do serviço por nada; exceto pela obediência; posto que assim como foi com Jesus seria conosco; e isto conforme Ele próprio disse e repetiu em inúmeras formas e ocasiões diferentes.
Se esse paradigma diabólico, completamente presente nas falsas esperanças, no discurso e na prática da “igreja”, não der lugar ao que Jesus disse que seria e aconteceria [...], até mesmo a verdadeira Igreja terá seu poder minado pelo engano; havendo cada dia menos luzes de esperança e gosto de sal no testemunho do amor neste planeta marcado para o Grande Dia da Revelação.
Eu, porém, enquanto escrevo estas linhas, sinto o vento, e percebo seu bulício; por vezes mudando de direções [...], mas sinto que ele sopra em sua independência, visto que vejo o mover das árvores; sim, balançando ora pra lá, ora pra cá; e, algumas vezes, como agora, aparentemente parando de moverem-se... Mas eis que outra vez vem o vento!... Agora uma brisa sob meus pés... Sim! O mover não cessa nunca!
Desse modo entendo meu lugar na vida e no mundo segundo Jesus!
Sim, não sou o Gerente do Vento; nem sou o indicador do seu caminho; nem tampouco aquele que sabe quando e de onde ele virá. Não! Apenas o constato. Apenas o aproveito. Apenas celebro sua soberania invisível. E, conforme disse Jesus, apenas creio que do mesmo modo é todo aquele que é nascido do Espírito.
A Palavra de Jesus, portanto, não falhou; ao contrário, contra todos os esforços miseráveis, armados e dispostos a recorrer a todos os poderes deste mundo [conforme o tem feito o “Cristianismo” e ou a “Igreja” em todo este tempo], a Palavra de Jesus se impôs e prevaleceu; posto que ela teria falhado justamente se o Caminho dos Discípulos tivesse se tornado a Política Global deste Planeta; ou seja: se a ONU dissesse que é da “igreja” que procede a honra, a glória e o poder. Então era sinal de que o reino do anticristo estaria de fato definitivamente instalado.
Nele, que não nos deixou enganados quanto ao que fosse vitória e sucesso no andar do Reino, do Evangelho e da verdadeira Igreja de Deus,
Caio - 15 de janeiro de 2012 - Lago Norte – Brasília – DF
8 comentários:
Olá, René, tudo bem? Quanto tempo! E que bom, que você voltou com uma sacudidela. Texto que não mexe com nossa reflexão de nada serve, são palavras ao vento. Mesmo sendo releituras, essa é do tipo que devemos estar sempre lendo com a devida atenção e seriedade.
Pois é...
Dessa realidade os religiosos não gostam.
Ontem eu lia que um político afirmava que, se ganhasse as eleições, construiria uma igreja em cada quarteirão da cidade, porque na igreja as pessoas são felizes. Na minha opinião, ele foi demagogo, oportunista, hipócrita e irresponsável. Primeiro, que jamais ele iria cumprir essa promessa maluca; e, segundo, dizendo isso, ele só está alimentando a paranóia dos igrejistas que vivem num mundo paralelo.
Aí, quando se diz que religião é ópio alguns se escandalizam.
Mas uma coisa é certa. Como bem diz o finalzinho do texto, Jesus não deixou ninguém enganado quanto ao real significado de vitória.
Então, Rê,
Há quaaaaaannnto tempo!!!!
Estou bem, graças a Deus! Espero que você também esteja bem!
Esse texto mexe mesmo com a nossa reflexão! Gostei muito de ler, apesar de já pensar assim há muito tempo. Aliás, o publiquei exatamente por ser o que penso.
Esse político, que você falou, é bem isso tudo que você descreveu. Nem o conheço, mas pelo discurso já dá pra ver que é assim. Pior que chego a tremer, só de imaginar uma igreja em cada quarteirão. Voltaríamos a viver na Genebra de Calvino (por força e por violência, não pelo Espírito)...
Valeu pela visita!!!
Abração e continue na Paz!
Pois é....e eu, que ainda há pouco, disse a Deus: -Senhor, que Teu Espírito Santo fale diretamente ao meu espírito, para que eu possa saber qual é a "direção" a seguir, visto que não "vejo" nada, e Te sinto tão silencioso...
E caí aqui no teu blog(rsss), e o Espírito Santo SÓ fez falar, e falar, e falar, através desta palavra postada aqui, do Pr Caio Fábio!...
Glórias a Deus pela Sua Misericórdia, Amor e Fidelidade, por ainda permitir um remanescente fiél para usar em nossas vidas, através das "sacudidelas" que a Regina Farias falou em seus comentários acima...
Valeu!! Obrigada pela postagem...Deus, de fato, respondeu minha oração...
Fico feliz que Deus tenha falado com você através desse texto, Christine, porque Ele também o usou pra falar comigo, em circunstância parecida.
Bjs e continue na Paz!
Belo texto, como sempre! (Mesmo sendo repostado...)
Então, Wendel,
Este é o tipo de texto que deve ser repostado de vez em quando... Belíssimo e verdadeiro!
Forte abraço e continue na Paz!
Com certeza, afinal de contas isso demonstra não só a humildade de saber que Deus fala com TODOS. Outra coisa importante é saber que da mesma forma que o texto nos serviu, ele pode alnaçar também a outros...
E nessa 'repostagem', servimos de redirecionadores 9se é que isso existe) dessa mesma palavra!
Exatamente!!!
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