"Portanto, ninguém se glorie em homens; porque todas as coisas são de vocês, seja Paulo, seja Apolo, seja Pedro, seja o mundo, a vida, a morte, o presente, ou o futuro; tudo é de vocês, e vocês são de Cristo, e Cristo, de Deus."
PENSE NISTO: "O valor do homem é determinado, em primeira linha, pelo grau e pelo sentido em que se libertou do seu ego!" (Albert Einstein).

terça-feira, 14 de julho de 2009

Novo Nascimento


- por René Burkhardt 14 de Julho de 2009

“Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito... O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito” (Jo 3.3, 5-6, 8).


Para ser cristão e alcançar a salvação é preciso “nascer de novo”. Mas, como isto acontece? Esta também foi a pergunta de Nicodemos. Ele enxergou o novo nascimento de forma material, apenas. E Jesus lhe disse que isto não acontecia de forma física, mas espiritual. O homem natural é totalmente incapaz de enxergar a verdade espiritual, por mais que ele seja de boa moral, inteligente e bem informado. Por isto, ele também é incapaz de entrar no Reino de Deus por sua própria força, já que ele não tem como obedecer, nem entender, nem agradar a Deus.

Nicodemos era um dos principais entre os judeus e, por isto, deveria conhecer o texto de Ezequiel 36.24-26: “Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis”. Certamente, como homem natural, ele tinha o conhecimento, mas não o entendimento das Escrituras.

Há uma clara correspondência entre as palavras de Ezequiel e as palavras do Senhor Jesus. Ezequiel fala de “água pura”, “espírito novo” e “coração novo”, da mesma forma que o Senhor fala de “água”, “Espírito” e “nascer de novo”. Portanto, as palavras de Jesus não deveriam causar a surpresa que causaram a Nicodemos, pois ele já deveria ter uma noção do que era o novo nascimento, o mesmo que havia sido descrito por Ezequiel. Mas ele não olhava de forma espiritual. Olhava de forma natural, física.

Também precisamos compreender que não se trata de uma reforma do “velho homem”, mas da criação de uma nova natureza nesse homem, efetuada pelo Espírito de Deus: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1.12-13). E também: “vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (Ef 4.24).

Outro aspecto a ser considerado é que, a partir do novo nascimento, o homem assume a sua condição de fé em Jesus Cristo, crucificado e ressurreto, e se torna um membro da família de Deus, participante da natureza divina, a vida do próprio Cristo. “Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus” (Gl 3.26); “logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus” (Gl 2.20); “pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina” (2Pe 1.4).

Então, Jesus mostrou como isso acontece: é necessário nascer da água e do Espírito.

1º) Que água é essa? João, o batista, batizava com água, mas disse que após ele viria outro, Jesus, que batizaria com o Espírito Santo e com fogo. E Jesus sabia disto. Portanto, não é desse tipo de água que Ele está falando aqui. Mais uma vez, ele usou uma linguagem figurada. Essa água é uma figura da Palavra de Deus: “tendo-a purificado [a Igreja] por meio da lavagem de água pela palavra” (Ef 5.26). Já que o batismo é o símbolo do novo nascimento, podemos concluir que a água é o símbolo da Palavra do Senhor.

Outros textos dão suporte a essa conclusão: “pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus” (1Pe 1.23). Regenerar significa gerar novamente.

“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2Co 5.17). O apóstolo João nos afirma que Jesus Cristo é o Verbo de Deus (Jo 1.1 e Ap 19.13), a Palavra de Deus, através da qual todas as coisas foram criadas e são sustentadas.

Nas bodas de Caná, temos uma tipificação desse novo nascimento através da água e do Espírito: ali, o Senhor Jesus manda os servos (que são a figura do Espírito Santo) encherem as talhas de pedra (que são a figura do ser humano) com água (que é a figura da Palavra). Com isto feito, o Senhor faz o milagre de transformar a água em vinho, ou seja, transforma a Palavra em vida (“as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida” Jo 6.63). Ora, o vinho representa o sangue, que, por sua vez, representa a vida (“a vida de toda carne é o seu sangue” Lv 17.14; “pois o sangue é a vida” Dt 12.23).

Dessa forma, o novo nascimento é o recebimento da vida de Deus, de Jesus, por aquele que entrou em um processo de conversão. Essa vida é dada pelo Espírito Santo, mediante o contato com a Palavra de Deus. Quanto mais contato com a Palavra, mais abundante será a vida dessa pessoa, na mesma medida em que ela permite a atuação do Espírito, para trazer discernimento. E, aqui, é importante salientar que o processo de conversão se inicia da mesma forma, ou seja, a pessoa terá que obedecer a “voz do Espírito”, para receber a Palavra que lhe dará a nova vida. E o mesmo Espírito que dá o discernimento da Palavra, providencia para que essa pessoa ouça essa Palavra em algum momento de sua vida.

Este é o nascer da água: da Palavra de Deus, não do batismo com ou em água, que é, apenas, um símbolo do novo nascimento, pelo qual todo cristão deve passar para demonstrar a homens e a seres celestiais, que tomou a decisão de se submeter ao senhorio de Cristo.

2º) Que Espírito é esse? “o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26). O Espírito que Jesus fala em João 3 é o próprio Espírito de Deus, uma das três Pessoas da Trindade. Não a terceira, mas uma das três, pois Ele é o próprio Deus, também. Este é o Espírito com o qual João Batista disse que Jesus batizaria aqueles que cressem nEle.

Nascer do Espírito, ser gerado por Ele, significa ouvir, concordar e obedecer a Ele. O Espírito Santo fala o tempo todo, com todas as pessoas. Em Isaías 30.21 vemos Deus dizer: “Quando te desviares para a direita e quando te desviares para a esquerda, os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo: Este é o caminho, andai por ele”. Essa palavra que as pessoas ouvem é do Espírito de Deus e, nesse texto, Ele está falando com incrédulos. O Senhor quer que todos se salvem, por isto Ele fornece a mesma chance a todos. Mas, para entrar em Seu Reino, é preciso concordar com o Espírito de Deus e obedecer a Ele. Somente ouvir não livra ninguém de sua condenação.

Algumas Considerações

Um homem nascido de novo tem sua salvação garantida, mas ainda não está completamente liberto. É aí que lhe vem a consciência de pecado e de sua total incapacidade de cumprir a lei de Deus, descobrindo que há, dentro de si, uma nova criatura que entra em choque com sua carne, ou seu velho homem. A libertação completa ocorre quando ele reconhece que carrega consigo um corpo de morte e que necessita de Alguém para livrá lo. Aí ele declara com Paulo: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7.24). Mas, no versículo 25, ele finalmente declara como alcançou sua completa salvação e libertação: “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor”. No capítulo oito desta epístola, Paulo traz a completa compreensão dessa libertação.

A Escritura nos dá um belo exemplo desse novo nascimento em Mateus 26, quando Pedro, após a prisão de Jesus e o canto do galo, chora amargamente: “Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que o galo cante, tu me negarás três vezes. E, saindo dali, chorou amargamente” (v. 75). Podemos comparar esse choro ao de um recém-nascido, tirado de seu lugar escuro para a luz.

Sabemos que o novo nascimento de Pedro, naquele momento, ao ser confrontado com a Palavra do Senhor e a ter discernido, não gerou um ser perfeito, já adulto e amadurecido. Gerou um “bebê espiritual” que ainda seria trabalhado pelo Espírito Santo, pelo resto de sua vida, até ser tornado perfeito e apto para estar diante de Deus. Mais tarde, já ressurreto, Jesus perguntou três vezes a Pedro se este O amava. E Pedro, que antes havia declarado que até morreria com Jesus, teve que declarar, cabisbaixo, que gostava do Senhor, que seu amor não era tudo aquilo que ele pensava. Nesse momento, a Palavra do Senhor estava formando um “novo ser” em Pedro, uma pessoa mais ponderada, mais equilibrada e consciente de sua própria natureza.

Pedro não conseguiria (e nenhum de nós) esse fruto na sua própria força. Como disse o profeta: “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal” (Jr 13.23). Assim, o novo nascimento é resultado do poder da Palavra de Deus e de Seu Espírito. E esse poder só atua com a nossa permissão.

“Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem” (Tg 2.19). Portanto, não basta crer. É preciso permitir que a Palavra e o Espírito de Deus atuem em nós, para gerarem não só o nosso novo nascimento, mas, também, o crescimento necessário para sermos apresentados puros e imaculados diante do Senhor. Amém.


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