- por Charles Haddon Spurgeon
Quão incertas são as coisas terrenas! Quão tolo é aquele crente que coloca seu tesouro em qualquer outro lugar que não nos céus! A prosperidade de Jó prometeu tanta estabilidade quanto qualquer coisa debaixo da lua pode dar. Aquele homem tinha à sua volta uma grande casa com servos, sem dúvida, dedicados e ligados a ele. Ele havia acumulado riquezas do tipo que não se desvalorizam repentinamente: ele tinha bois, jumentos e gado. Ele não precisava ir a mercados e feiras a fim de comercializar seus bens para adquirir alimento e vestimenta, pois ele praticava a agricultura em grande escala ao redor de sua propriedade e, provavelmente, cultivou ali mesmo tudo o que seu padrão de vida exigia. Seus filhos eram numerosos o bastante para prometer uma longa linha de descendentes. Sua prosperidade não precisava de nada para consolidar-se; já havia chegado ao máximo. Onde estaria o que poderia diminuí-la?
Lá em cima, além das nuvens, onde nenhum olho humano poderia ver, havia uma cena acontecendo que não prognosticava o bem para a prosperidade de Jó. O espírito do mal estava face a face com o Espírito infinito de todo bem. Uma conversa extraordinária ocorreu entre esses dois seres.
Quando chamado a contar seus feitos, o maligno gabou-se de ter passeado por toda a terra, insinuando que não havia encontrado nenhum obstáculo à sua vontade e nenhuma oposição ao seu livre mover e agir de acordo com seu próprio prazer. Ele caminhou por todo lugar como um rei em seu domínio, desimpedido e sem quem o desafiasse. Quando o grandioso Deus lembrou-o que havia pelo menos um lugar entre os homens em que ele, o diabo, não tinha lugar e onde seu poder não era reconhecido, a saber, no coração de Jó; que havia um homem que permanecia como um castelo inexpugnável, guarnecido pela integridade, e guardado com perfeita lealdade como a possessão do reino dos céus, o maligno, então, desafiou Jeová a testar a fidelidade de Jó, dizendo que a integridade do patriarca era devido à sua prosperidade, que ele servia a Deus e evitava o mal por motivos sinistros, pois ele achava sua conduta produtiva para si mesmo.
O Deus dos céus aceitou o desafio do maligno e deu-lhe permissão para tirar todas as misericórdias que afirmava serem as colunas da integridade de Jó e de destruir todas as defesas externas e apoios e ver se a torre permaneceria em sua própria força natural sem eles. Em conseqüência disso, toda a riqueza de Jó se foi num dia de trevas e nem mesmo um filho foi deixado para alentá-lo.
Um segundo encontro entre o SENHOR e o anjo caído ocorreu. Jó era novamente o assunto da conversa e o Grandioso, desafiado por Satanás, permitiu que este tocasse até mesmo os ossos e a carne de Jó, até que aquele príncipe tornou-se pior do que um mendigo, até que ele, que era rico e feliz, estivesse pobre e miserável, cheio de doença da cabeça aos pés, e forçado a raspar-se com um pedaço de telha para ter um pobre alívio de sua dor.
Temos de ver nisso a mutabilidade de todas as coisas terrenas. “Fundou-a Ele [Deus] sobre os mares e sobre as correntes a estabeleceu” (Sl 24.2) é a descrição de Davi desse mundo. E, se ele foi fundado sobre as correntes, você deve lembrar que elas mudam com freqüência. Não ponha sua confiança em nada abaixo das estrelas. Lembre-se que está escrito “mudança” em tudo o que é da natureza. Portanto, não diga: “Meu monte permanece firme: nunca será movido”. O olhar de relance de Jeová pode tremer esse monte até ele se tornar pó, o toque de Seu pé pode torná-lo como o Sinai, derretê-lo como cera e torná-lo apenas em fumaça. “Buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus” (Cl 3.1), e que seu coração e seu tesouro estejam “onde traça nem ferrugem corrói, e onde os ladrões não escavam nem roubam” (Mt 6.20).
(Extraído do capítulo 2 do livro O Homem que Deus Usa. © Editora dos Clássicos, 2001.)
Extraído de http://www.odiscipulo.com/php/pagina.php?doc=artigos/o_servo_que_deus_usa
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