"Portanto, ninguém se glorie em homens; porque todas as coisas são de vocês, seja Paulo, seja Apolo, seja Pedro, seja o mundo, a vida, a morte, o presente, ou o futuro; tudo é de vocês, e vocês são de Cristo, e Cristo, de Deus."
PENSE NISTO: "O valor do homem é determinado, em primeira linha, pelo grau e pelo sentido em que se libertou do seu ego!" (Albert Einstein).

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Verdadeira e Falsa Conversão

- por Charles G. Finney

"Eia! Todos vós, que acendeis fogo e vos armais de setas incendiárias, andai entre as labaredas do vosso fogo e entre as setas que acendestes; de mim é que vos sobrevirá isto, e em tormentas vos deitareis" Isaías 50:11


Evidentemente, Isaías estava endereçando isso para aqueles que professavam serem religiosos e que exaltavam a si mesmos, como se estivessem em um estado de salvação. Mas a esperança deles era um fogo aceso por eles mesmos e as faíscas eram criadas também por eles. Esta discussão não terá utilidade, exceto para aqueles que são honestos em aplicá-la para si mesmos. Se você fizer isto, eu posso ser capaz de guiá-lo a descobrir o seu verdadeiro estado e, se você é um novo enganado, dirigi-lo para o verdadeiro atalho para a salvação.

O estado natural dos homens antes da conversão é puro e genuíno egoísmo. Eles não têm nenhuma benevolência do Evangelho. O egoísmo está intimamente ligado à própria felicidade e à busca do próprio prazer, porque é assim que são. Homens egoístas colocam sua felicidade acima de outros interesses de valor maior, como a glória de Deus e o bem do universo. Esses homens estarem nesse estado, antes da conversão, é evidente por diversos motivos. Todo homem sabe que todos os outros homens são egoístas. Todo o comportamento da humanidade é conduzido por este princípio. Se qualquer homem ignorar isso e tentar se comportar com as pessoas como se elas não fossem egoístas, ele será tomado por louco.

Benevolência é preferir a felicidade dos outros. Na situação de convertido, o caráter do homem se torna benevolente, ou amável. O indivíduo convertido é benevolente, não altamente egoísta. Este é o estado mental de Deus. Nos é dito que Deus é amor. Benevolência inclui todo o Seu caráter. Todos os Seus atributos morais são, apenas, manifestações de Sua benevolência. Uma pessoa convertida é, neste aspecto, como Deus. Não quero dizer que ninguém é convertido se não for tão pura e perfeitamente benevolente quanto Deus. Mas sua escolha predominante é a benevolência. Ele sinceramente busca o bem dos outros, como um fim em si mesmo. Por benevolência desinteressada, não quero dizer que uma pessoa seja desinteressada e não sinta nenhum interesse em seu objeto de busca. Ela busca a felicidade dos outros como um fim em si mesmo e não para promover sua própria felicidade.

Deus é puramente benevolente. Ele não faz Suas criaturas felizes com o objetivo de promover Sua própria felicidade, mas porque Ele ama a felicidade delas e escolhe isso para o próprio prazer delas. Claro que Ele se sente feliz em promover a felicidade de Suas criaturas, mas Ele não faz isso para a Sua própria satisfação. O homem desinteressado se sente feliz em fazer o bem. Se ele não amasse e não tivesse prazer em fazer o bem, isso não seria uma virtude nele.

Benevolência é santidade. A lei de Deus requer: "...Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento...Amarás o teu próximo como a ti mesmo." (Mt 22.37, 39). O homem convertido se submete à lei de Deus; e, tanto quanto ele é como Deus, ele é benevolente. Este é o principal aspecto de seu caráter.

Verdadeira conversão é a mudança de um estado de supremo egoísmo para a benevolência. É uma mudança nos fins (motivações) da busca e não uma simples mudança na forma de se chegar aos fins. Dizer que o convertido e o não convertido diferem apenas nos meios que usam, enquanto ambos almejam o mesmo fim, é falso. Gabriel e Satanás não almejam serem felizes. O arcanjo não obedece a Deus com a intenção de promover sua própria felicidade.

MOTIVO E AÇÃO

Um homem pode mudar seus meios e, ainda assim, ter o mesmo resultado: sua própria felicidade. Ele pode não crer em Jesus, ou na eternidade, e, ainda assim, pode ver que fazer o bem será uma vantagem para si neste mundo. Suponha, então, que seus olhos sejam abertos e ele veja a realidade da eternidade. Ele pode tomar a religião como um meio para a felicidade da eternidade. Não há nenhuma virtude nisso. É o motivo que caracteriza o ato, não os meios empregados. A verdadeira e a falsa conversão diferem nisso.

A verdadeira conversão escolhe, como um fim para a sua busca, a glória de Deus e o bem de Seu Reino. A pessoa vê isso como um bem maior do que sua própria felicidade. Ela não é indiferente com sua felicidade, mas prefere a glória de Deus, porque é um bem maior. Ela olha para a felicidade de todos os indivíduos, de acordo com sua real importância, tanto quanto seja capaz de avaliar isso, e escolhe o bem maior como seu objetivo supremo. Há caminhos nos quais verdadeiros santos e pessoas enganadas concordam e caminhos nos quais discordam. Eles podem concordar em ter uma vida moral. A diferença está em seus motivos. O verdadeiro santo tem uma vida moral, porque ele ama a santidade. A pessoa enganada usa a moralidade como um meio para efetivar sua própria felicidade.

Igualmente, elas podem ser pessoas de oração, até onde é concebida a forma de oração. De novo, a diferença está em seus motivos. O verdadeiro santo adora orar, enquanto o outro ora porque espera receber algum benefício próprio por orar. O verdadeiro santo espera um benefício por orar, mas este não é o motivo que o leva a orar. O outro não ora por motivo diferente. Ambos podem ser zelosos na religião. Um pode ser zeloso porque seu zelo está de acordo com seu conhecimento e ele, sinceramente, deseja e ama promover o cristianismo como um fim em si mesmo. O outro pode mostrar um zelo igual, para assegurar sua própria salvação, ou porque tem medo de ir para o inferno, se não trabalhar para o Senhor. Ele quer aquietar sua consciência e não ama o cristianismo por si só.

Eles podem ser igualmente responsáveis com suas obrigações: o verdadeiro convertido, porque ama trabalhar para Deus e o outro porque não ousa negligenciar isso. Ambos podem ter o mesmo respeito pelo que é certo: o verdadeiro convertido, porque ama o que é certo, o outro, porque sabe que não pode ser salvo, se não trabalhar pelo que é certo. Ele é honesto em suas transações comerciais, porque este é o único jeito de assegurar seus próprios interesses. Ele tem a reputação de ser honesto; mas, se ele não tem um motivo mais alto, ele não terá nenhuma recompensa de Deus.

Eles podem concordar em seus desejos em muitos aspectos. Eles podem concordar em seus desejos de servir a Deus. O verdadeiro convertido serve a Deus porque ele ama o serviço de Deus; e a pessoa enganada serve a Deus pela recompensa, como o servo contratado serve a seu mestre. O verdadeiro santo deseja a conversão de almas porque isso glorificará a Deus. A pessoa enganada deseja o favor de Deus para o lucro pessoal. Ela estará motivada nisso, assim como está em dar dinheiro. Uma pessoa pode dar dinheiro para uma sociedade bíblica, ou uma associação missionária, somente por motivos egoístas. Ela também pode desejar e trabalhar pela conversão do mundo, por motivos puramente egoístas.

SANTIDADE E EGOÍSMO

Verdadeiros e falsos convertidos podem querer se arrepender. O verdadeiro convertido abomina o pecado, porque isso desonra a Deus. O outro quer arrepender-se, porque sabe que se não o fizer, será condenado. Eles podem concordar não apenas em seus desejos, mas em suas decisões. Os dois podem resolver deixar o pecado, obedecer a Deus e testemunhar para o Reino. Ambos podem resolver isso com grande força de propósito, mas com motivos diferentes. Suas intenções podem ser parecidas. Eles podem querer glorificar a Deus convertendo homens e estendendo o Reino de Cristo. Os verdadeiros santos trabalham por amor a Deus e à santidade, enquanto os falsos convertidos trabalham com o objetivo de assegurarem sua própria felicidade. Um escolhe isso como um fim, enquanto outro escolhe como um meio de promover um fim egoísta. Ambos podem decidir serem verdadeiramente santificados. O verdadeiro santo porque ama a santidade e a pessoa enganada porque sabe que não pode ser feliz de nenhuma outra maneira. Os dois podem amar a Bíblia. O verdadeiro santo a ama porque ela é a verdade de Deus e ele se delicia com ela. O outro a lê e a aplica em suas esperanças egocêntricas.

O verdadeiro santo ama a Deus, porque ele vê que o caráter de Deus é altamente amoroso e excelente em si mesmo. O outro pensa que Deus é seu amigo particular e irá fazê-lo feliz para sempre. Ele conecta a idéia de Deus com seus próprios interesses. Os dois podem amar aos cristãos. O verdadeiro convertido vê neles a imagem de Cristo. A pessoa enganada as ama porque pertencem à mesma denominação que a sua, ou porque estão do seu lado. Eles também podem concordar ao odiarem as mesmas coisas. Ambos podem odiar a infidelidade e se oporem a ela vigorosamente. O verdadeiro santo, porque isso é contrário a Deus e à santidade; a pessoa enganada, porque isso ofende seus próprios interesses. O verdadeiro convertido odeia o pecado, porque isso é abominável para Deus e a pessoa enganada o odeia, porque isso é prejudicial para ela mesma. Muitos indivíduos têm odiado seus próprios pecados e ainda não os abandonaram. É comum o beberrão olhar para trás, para o que ele foi um dia, e abominar o álcool, porque isso arruinou sua vida. Mas, ainda, continua a beber, muito embora, quando ele olha para os efeitos, ele sinta indignação.

AMOR DE SANTOS E PECADORES

O verdadeiro santo graciosamente se opõe aos pecadores e abomina qualquer caráter ou conduta calculada para arruinar o Reino de Deus. O falso convertido se opõe aos pecadores, porque eles contradizem sua religião. Ambos podem se alegrar com a conversão de almas. O verdadeiro convertido, porque ele tem seu coração voltado para isso, por seu próprio valor. A pessoa enganada ama isso, porque ela pensa ter um interesse elevado. O verdadeiro e o falso convertido podem lamentar a falta de zelo na Igreja. O verdadeiro fica angustiado, porque Deus é desonrado, e o falso, porque sua própria alma não está feliz. O verdadeiro convertido gosta de conversas espirituais, mas a pessoa enganada, espera tirar alguma vantagem da companhia dos santos. O primeiro gosta disso, porque a boca fala do que está cheio o coração. O outro adora falar sobre o grande interesse que ele tem pela religião e a esperança que ele tem de ir para o céu.

O verdadeiro santo se deleita em adorar, orar, ouvir a Palavra de Deus e estar em comunhão com Deus e Seus santos. O outro pensa que um encontro religioso dá suporte para suas esperanças especiais. Ele pode ter uma centena de razões para gostar de reuniões, mas não porque ele gosta da adoração por si mesma. Enquanto ambos podem ter prazer em orar, o verdadeiro santo é atraído para perto de Deus e se deleita na comunhão com Ele. Nenhum obstáculo o impede de ir diretamente para Deus. A pessoa enganada tem satisfação nisso, porque é sua obrigação orar em secreto, e ele sente uma satisfação de justiça própria ao fazê-lo. Ele pode sentir um certo prazer nisso, um tipo de excitamento da mente, que ele confunde por comunhão com Deus. Ambos podem amar a lei de Deus. O verdadeiro santo, porque ela é excelente, santa, justa e boa. O outro pensa que ela o fará feliz, se amá-la. Embora eles possam consentir com as penalidades da lei, apenas o santo verdadeiro consente, porque sabe que seria justo Deus mandá-lo para o inferno. A pessoa enganada pensa que não corre perigo disso. Ele sente respeito por elas, porque ele sabe que são corretas e sua consciência as aprova. Mas ele nunca consentiu com elas no seu próprio caso.

Igualmente, eles podem ser solícitos em fazerem caridade para organizações. Dois homens podem dar somas iguais para uma causa nobre, mas por diferentes motivos. Um estaria como que desejoso em dar, ainda que soubesse que nenhuma outra pessoa daria. O outro dá pelo crédito que isso proporciona, para aquietar sua consciência, ou porque ele espera conseguir o favor de Deus. Eles também podem se autonegar em muitas coisas. Autonegação não é restrita a santos verdadeiros. Veja os sacrifícios dos muçulmanos peregrinando para Meca. Veja os católicos indo para cima e para baixo em pedras cortantes, sobre seus joelhos despidos, até sangrarem. Mas sabemos que isso não é cristianismo. O verdadeiro santo nega a si mesmo no intuito de fazer o bem para os outros. Ele está mais fixado nisso do que na própria indulgência, ou seu próprio interesse. A pessoa enganada pode ir tão distante, mas puramente por motivos egoístas. Ambos podem estar desejosos por serem martirizados. Leia sobre as vidas dos mártires e você não terá dúvidas de que alguns desejavam sofrer, por terem uma idéia errada das recompensas do martírio. Eles buscariam sua própria destruição, porque pensavam que essa era a estrada certa para a vida eterna.

Em todos esses casos, os motivos de uma classe de pessoas contradizem os da outra. A diferença está na escolha de diferentes fins. Um escolhe o interesse de Deus. Querer que ambas as classes visem o mesmo fim é dizer que um pecador impenitente é tão não-egoísta, quanto um cristão verdadeiro.

QUEM SOU EU?

Se essas duas classes são tão parecidas, então como poderemos conhecer nosso próprio caráter verdadeiro? Sabemos que o coração é enganoso sobre todas as coisas e desesperadamente mau. Como sabemos se estamos buscando o amor de Deus e Sua santidade, ou então, se estamos buscando o favor de Deus para o nosso próprio benefício? Se estamos verdadeiramente buscando benevolência e santidade, isso aparecerá em nossas atitudes diárias. Se o egoísmo rege nossa conduta, então, tão certo quanto Deus reina, nós somos verdadeiramente egoístas. Se somos egoístas com os homens, então somos egoístas com Deus: "...pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê" (1Jo 4.20).

Cristianismo não é somente amor a Deus, mas ao homem também. Se nossas atitudes diárias nos mostram que somos egoístas, não somos convertidos. Do contrário, a benevolência não seria essencial para a fé e um homem poderia ser um cristão sem amar ao seu próximo como a si mesmo. Se você é desinteressado, as obrigações cristãs não serão uma tarefa difícil para você. Você não trabalhará como se o seu trabalho fosse um incômodo. O falso convertido não trabalharia se não tivesse que fazê-lo. Isso é uma tarefa árdua e, se ele tiver algum prazer nisso, é por seus resultados antecipados, ou seja, suporte e conforto de sua família, ou o crescimento de seu patrimônio. Esta é a atitude que algumas pessoas têm em relação ao cristianismo. Elas agem como um homem doente tomando remédio. Elas desejam seus efeitos e sabem que necessitam deles, ou morrerão. Nunca farão isso por vontade própria. Suponha que homens adorem trabalhar, como uma criança adora brincar. Eles fariam isso por todo o dia, sem outro incentivo além de prazer. Quando o cristianismo é amado por si próprio, não existe nenhum cansaço.

Se este é um tempo de frieza na Igreja, verdadeiros convertidos, ainda assim, desfrutarão de seu próprio relacionamento com Deus. Mas a pessoa enganada invariavelmente será encontrada abraçando o mundo. Então, quando verdadeiros cristãos se erguem e gritam sobre sua alegria, de forma que o cristianismo comece a reviver, o enganado rapidamente se apressa em parecer ainda mais zeloso que os verdadeiros santos. Ele é impelido por convicções e não por afeições. Quando não há interesse público, ele não sente nenhuma convicção. Mas quando a Igreja acorda, ele é compelido a se mexer para manter sua consciência tranqüila. Isso é apenas egoísmo em outra forma. Se você é egoísta, sua alegria vai depender principalmente da força de suas esperanças de chegar ao céu, não de suas afeições. Seu prazer não está em empregar o cristianismo, mas em uma grande variedade de coisas diferentes daquelas dos verdadeiros santos. Essas coisas são, na maioria, uma antecipação do gozo. Quando você sente uma grande certeza sobre ir para o céu, então você tem prazer na sua fé. Depende da sua esperança, não de seu amor.

As pessoas falam que não têm prazer na religião, quando elas perdem suas esperanças. É um motivo fraco. Se elas amassem o cristianismo por si só, seu prazer não dependeria de sua esperança. A pessoa que ama seu trabalho fica feliz em qualquer lugar. E, se você amasse viver o cristianismo, você seria feliz mesmo que Deus o colocasse no inferno, por ter a certeza de que Ele o deixaria trabalhar lá para ele. É claro que os santos verdadeiros têm prazer em suas esperanças, mas pensam muito pouco nelas. As pessoas enganadas, ao contrário, estão conscientes de que não têm prazer em suas obrigações. Elas têm prazer nelas, como um homem tem, ao pensar que através de um árduo trabalho ele terá uma ótima saúde.

O verdadeiro santo se deleita com a paz de Deus, porque o céu já começou em sua alma. Ele não tem apenas a perspectiva disso, mas a vida eterna começou nele atualmente. Ele tem aquela fé que é muito sólida em relação às coisas que ele espera (veja Hb 11.1). Ele sabe que o céu começou nele e que não é obrigado a esperar até que ele morra, para experimentar os prazeres da vida eterna. Seu prazer é proporcional a sua santidade, não em proporção a sua esperança.

A OBEDIÊNCIA DO AMOR

Outra maneira de dizer que você é egoísta em religião é esta: a pessoa enganada tem apenas o propósito de obedecer, enquanto o verdadeiro santo tem preferência por obedecer. Esta é uma importante distinção e temo que algumas pessoas façam isso. Multidões têm o propósito de obedecer, mas não têm uma preferência verdadeira por obedecer. Preferência é escolha verdadeira, ou obediência de coração. Indivíduos falam em pretenderem obedecer, mas falham nisso. E eles dirão a você como é difícil executarem os seus propósitos. Por outro lado, o verdadeiro cristão prefere e escolhe a obediência. O primeiro tem o propósito de obedecer, como aquele que Paulo tinha. Paulo ao ser convertido, tinha o forte propósito de obedecer, mas ele não obedecia, porque o seu coração não estava nisso (veja Rm 7). O falso convertido pretende ser santo, porque ele sabe que este é o único modo de ser feliz. O verdadeiro convertido escolhe a santidade por si mesma e ele é tornado santo.

O verdadeiro convertido e a pessoa enganada também diferem em sua fé. O primeiro tem confiança no caráter de Deus, que o guia a uma completa submissão a Ele. Confiança nas promessas do Senhor depende de conhecer o caráter de Deus. Humanos ou divinos, os governos são obedientes em apenas dois princípios: medo e confiança. Não importa qual seja o governo, da família, de um navio, de uma nação ou do universo. Toda obediência acontece por um desses dois princípios. Em um caso, os indivíduos obedecem pela esperança da recompensa e pelo medo do castigo. No outro, eles obedecem pela confiança no caráter do governo que trabalha pelo amor. Uma criança obedece a seus pais por confiança. Sua fé trabalha pelo amor. O outro produz uma obediência externa por esperança e medo.

O verdadeiro convertido tem fé para obedecer a Deus, porque ele ama a Deus. Esta é a obediência por fé. O outro tem, apenas, fé e submissão parciais. O Diabo tem fé parcial. Ele crê e treme (veja Tg 2.19). Uma pessoa pode crer que Cristo veio para salvar os pecadores e se submeter a Ele para ser salvo. Mas ele se submete ao governo de Deus? Não! Sua submissão é apenas sob a condição de que ele esteja salvo. Nunca é com aquela confiança sem reservas em todo o caráter de Deus, que o leva a dizer: "Seja feita a Tua vontade!". Ele apenas se submete para ser salvo. Sua religião é a religião da lei. O outro tem a fé do Evangelho. Um é egoísta e o outro é benevolente. Aqui está a verdadeira diferença entre as duas classes: um é exterior e hipócrita e o outro é aquele do coração, santo e aceitável a Deus.

Se você é egoísta, você se regozijará com a conversão de pecadores, apenas, quando você tiver parte nisso. Você terá uma satisfação muito pequena quando alguma outra pessoa estiver envolvida. A pessoa egoísta se regozija quando ela é ativa e obtém sucesso em converter pecadores, porque ela pensa que terá uma grande recompensa. Mas, ao invés de se deleitar quando isso é feito por outros, ela sentirá inveja. O verdadeiro santo sinceramente se deleita e se regozija quando pecadores são convertidos pelos outros, tanto quanto se tivessem sido por eles mesmos. Alguns ficam interessados em avivamentos somente quando estão ligados a eles. Parece que eles prefeririam que os pecadores se mantivessem não convertidos, do que fossem salvos através de um evangelista, ou de um ministro de outra denominação. O verdadeiro espírito de um filho de Deus diria para Deus mandar qualquer um que Ele desejasse, desde que deixasse as almas serem salvas e Seu nome ser glorificado!

VIVENDO PARA GLORIFICAR A DEUS

Considere sua própria felicidade de acordo com o valor que concerne a ela. Coloque-a depois da glória de Deus e do bem do universo, então lhe dê o devido valor. Isto é precisamente o que Deus faz. E é isso que Ele quer dizer quando Ele manda você amar o seu próximo como a si mesmo. De fato, você vai promover sua própria felicidade a um nível, no qual você vai deixá-la fora de vista. Sua felicidade consiste, principalmente, em gratificação por desejos virtuosos. Pode haver prazer em satisfazer desejos que sejam egoístas, mas isso não é felicidade verdadeira. Mas, para serem virtuosos, seus desejos precisam ser sem interesse.

Suponha que um homem encontre um mendigo na rua, com frio, faminto e pronto a perecer. Os sentimentos do homem são tocados e ele pára em um mercado para comprar um bocado de pão para o mendigo. Imediatamente, o semblante do mendigo brilha com uma gratidão indescritível. A satisfação do homem nesse ato é em proporção exata aos seus motivos. Se ele somente fez isso por amor, sua satisfação se completa com o ato em si. Mas, se ele fez isso, até certo ponto, para se tornar público que ele é uma pessoa caridosa e humana, então sua felicidade não estará completa até que o feito seja conhecido pelos outros.

Imagine um pecador em seus pecados. Ele é muito mau e muito desprezível. Você se comove e o leva para Jesus. Se o seu motivo era o de obter honra entre os homens e de assegurar o favor de Deus, você não estará completamente feliz até o fato ser contado. Mas, se você simplesmente desejava salvar uma alma da morte, então, assim que você vê que está feito, sua satisfação está completa. Se você visa fazer o bem pelo bem, então você se alegrará na medida em que faz o bem. Mas, se você faz o bem simplesmente para assegurar sua própria felicidade, você falhará. Você será igual à criança perseguindo sua própria sombra: ela nunca consegue ultrapassá-la, porque ela sempre fica adiante.

Suponha, no caso que mencionei antes, que você não tenha nenhuma vontade de ajudar ao mendigo, mas, simplesmente, quer os aplausos de um certo indivíduo. Você não sentirá nenhum prazer, afinal, em ajudar ao mendigo, até que o indivíduo ouça a respeito e o elogie. Então você fica satisfeito. Mas você não está satisfeito com o ato em si. Ou, suponha que você visa a conversão de pecadores. Se não for o amor pelos pecadores que o leva a fazer isso, como a conversão dos pecadores poderá fazê-lo feliz? A verdade é que Deus fez o homem de forma que ele precisa buscar a felicidade dos outros, ou ele não poderá ser feliz. Esta é a verdadeira razão porque os homens, buscando sua própria felicidade e não a dos outros, falham. Ela está sempre adiante deles. Se eles parassem de buscar sua própria felicidade e trabalhassem para fazer o bem, eles seriam felizes.

FELICIDADE ATRAVÉS DA SANTIDADE

Cristo menosprezou a vergonha, suportou a cruz e olhou firmemente para a alegria posta diante dEle. Mas qual era a alegria posta diante dEle? Não a Sua própria salvação ou felicidade, mas o grande bem que Ele faria na salvação do mundo. Ele estava perfeitamente feliz nEle mesmo. A felicidade dos outros era a Sua meta. Esta era a alegria posta diante dEle e Ele a obteve. Onde é dito: "Nós amamos porque Ele nos amou primeiro" (1Jo 4.19), a linguagem sugere, diretamente, duas interpretações: que Seu amor por nós providenciou o meio para o nosso retorno e a influência para nós O amarmos, ou, que nós O amamos pelo Seu favor que nos foi mostrado. Esta última não é possível, porque Jesus Cristo refutou totalmente este princípio no Sermão do Monte: "...se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo?" (Mt 5.46). Se amamos a Deus, não por Seu caráter, mas por Seus favores para nós, Jesus Cristo nos chama de reprovados.

A Bíblia fala de felicidade como o resultado da virtude, mas virtude não é a perseguição da própria felicidade. Se uma pessoa deseja o bem dos outros, ela será feliz na mesma medida em que ela se satisfaz com esse desejo. Deus ama aos outros. Ele deseja a felicidade de todo mundo. E, para ser igual a Ele, precisamos almejar e nos deleitarmos com Sua felicidade, e glória, e honra, e glória do universo. Deus requer arrependimento sincero, ou seja, renunciar ao pecado, porque ele é odioso em si mesmo. Renunciar ao pecado sob condição de perdão, não é arrependimento sincero. Ou, se disser: "Eu pedirei perdão por meus pecados, se você me perdoar". Arrependimento sincero requer fé verdadeira e submissão verdadeira, não fé condicional ou submissão parcial. É nisso que a Bíblia insiste.

Muitas pessoas têm diferentes pontos de vista sobre a natureza do Evangelho. Algumas o vêem como uma maneira de acomodação para a humanidade, no qual Deus veio menos rígido do que era sob a lei. Isso os habilita a seguirem a moda, ou serem mundanos, e o Evangelho virá e compensará suas deficiências e os salvará. A outra classe vê o Evangelho como uma provisão da divina benevolência, designada para destruir o pecado e promover a santidade. Seu valor total consiste na sua força de santificá-los. Dessa discussão podemos ver porque algumas pessoas estão muito mais ansiosas em converter pecadores do que ver a Igreja santificada e Deus glorificado pelas boas obras de Sua gente. Muitos sentem uma simpatia natural por pecadores e desejam que eles sejam salvos do inferno. Se isto é conseguido, eles não têm nenhum outro interesse. Mas os verdadeiros santos são afetados pelo pecado, porque ele desonra a Deus. E eles ficam ainda mais angustiados por verem cristãos pecarem, porque isso desonra ainda mais a Deus.

Algumas pessoas não parecem se preocupar em como as pessoas da Igreja vivem, desde que elas possam ver apenas o trabalho de conversão. Elas não estão ansiosas por verem Deus honrado. Isso mostra que elas não são motivadas pelo amor à santidade, mas por uma simples compaixão por pecadores.

Traduzido por René Burkhardt

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