"Sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado" Gálatas 2.16
Em um sentido comum, a justificação pela lei significa “inocente”. Justificar um indivíduo, neste sentido, é declarar que ele é inocente de qualquer violação da lei. Isto afirma que ele não cometeu nenhum crime e o declara inocente.
Mais tecnicamente, isto é uma forma de defesa de uma acusação de crime. O indivíduo que é acusado admite o fato, mas apresenta uma desculpa, com a qual ele diz que tem o direito de fazer o que fez. Desta forma, se uma pessoa é acusada de assassinato, a declaração de defesa admite que ela matou o homem, mas alega que, ou isto foi feito em defesa própria, ou foi um acidente inevitável. Em ambos os casos, a declaração de defesa admite o fato, mas nega a culpa.
Pelos preceitos da lei “nenhuma carne será justificada”. Isto é verdade em ambas as formas de justificação.
Na primeira, ou forma geral de justificação, o ônus da prova cabe ao acusador. Neste caso, ele apenas precisa provar que um crime foi cometido em algum momento. Se isto é provado, o indivíduo é culpado. Deste modo, ele não pode ser justificado pela lei. Ele é considerado culpado. Argumentar que ele fez mais coisas boas do que más, ou que ele guardou a lei de Deus por mais vezes que a quebrou, não é válido. Para ser justificado neste caso, ele precisa provar que cumpriu cada ‘til’ e cada ‘vírgula’ da lei. Quem pode ser justificado pela lei, dessa forma? Ninguém!
Na segunda, ou forma técnica de justificação, o ônus da prova recai sobre aquele que faz a defesa. Ele admite o fato alegado e ainda precisa dar uma boa desculpa, ou fracassa. Dois pontos devem ser considerados: a alegação de defesa precisa ser verdade e precisa ser uma desculpa boa e suficiente, não um discurso frio que não soluciona o caso. Se ela não é verdadeira, ou é insuficiente, especialmente se é feita na corte ou no governo, ela apenas vai prejudicá-lo mais.
A NATUREZA DO PECADO
Os pecadores geralmente usam sua natureza pecaminosa como uma justificativa. Esta desculpa é boa, se ela for verdadeira. Se é verdade, como eles sustentam, que Deus lhes deu uma natureza que é pecadora em si mesma, então, esta é uma boa desculpa para pecar. Diante do céu e da terra, e no dia do juízo, esta será uma boa alegação de justificação. Deus precisa destruir o entendimento de todos os seres racionais do universo, antes que eles acusem a você por pecar, se Deus fez você pecar, ou se Ele deu a você uma natureza pecadora em si mesma.
Como a sua natureza pode ser pecadora? O que é pecado? Pecado é uma transgressão da lei. A lei diz que você precisa não ter a natureza que você tem? Isto é absurdo!
Esta doutrina não observa a diferença entre pecado e a ocasião do pecado. Os apetites do corpo e as tendências da mente e do corpo, quando fortemente excitados, se tornam as ocasiões do pecado.
Foi assim com Adão. Ninguém vai dizer que Adão tinha uma natureza pecaminosa. Mas ele tinha, por sua constituição, um apetite por comida e um desejo por conhecimento. Eles não eram pecaminosos, mas eram como Deus os fez. Eles eram necessários para o preparar a viver neste mundo como um sujeito do governo moral de Deus. Mas, sendo fortemente excitado, foi levado à submissão e isto se tornou a ocasião do seu pecado contra Deus. Essas tendências eram inocentes em si mesmas, mas ele se agarrou a elas de uma maneira pecaminosa. E esse foi o seu pecado.
Quando o pecador fala da sua natureza pecaminosa como uma justificação, ele confunde esses apetites inocentes e suscetibilidades com o próprio pecado. Fazendo assim, na verdade, ele acusa a Deus por ter dado a ele uma natureza pecaminosa. Na verdade, sua natureza é essencial para a ação moral. Deus a fez da melhor forma que poderia ser feita, perfeitamente adaptada às circunstâncias nas quais o homem vive. A natureza do homem está melhor adaptada para amar e obedecer a Deus, do que para odiá-lO e desobedecê-lO. Não está longe o dia em que se saberá se esta é uma boa desculpa ou não. Então você verá se pode encarar o seu Criador dessa forma (quando Ele o acusar de pecado). Você vai se virar e jogar a culpa de volta sobre Ele?
Você tem idéia de qual foi a influência que o pecado de Adão teve em produzir o pecado em sua posteridade? Ele os sujeitou a uma tentação mais agravada, mas, de forma alguma, tornou sua natureza pecaminosa em si mesma.
INCAPAZ DE OBEDECER?
Outra desculpa é incapacidade. Esta também é uma boa desculpa, se ela é verdadeira. Se os pecadores realmente são incapazes de obedecerem a Deus, esta é uma boa argumentação para justificação. Quando você é acusado de não obedecer às leis de Deus, você só precisa mostrar que Deus está exigindo algo que você não foi capacitado a fazer, e todo o universo inteligente vai declarar o veredito de “inocente”. Se você não tem poder natural para obedecer a Deus, eles precisam dar esse veredito, ou deixarem de ser pessoas razoáveis. A lei da razão declara que ninguém é obrigado a fazer aquilo que não tem poder para fazer.
Suponha que Deus tenha determinado que você desfaça algo que você tenha feito. Isto é uma impossibilidade natural. Você vai ser condenado por não fazer isso? Deus requer arrependimento de pecados passados, não que você os desfaça.
Suponha que era uma obrigação sua advertir uma certa pessoa sobre o seu pecado, mas agora ela está morta. Você ainda está sob a obrigação de advertir a essa pessoa? Não! Isso é impossível. Tudo que Deus pode requerer agora é que você se arrependa! Deus pode manter você responsável por não fazer isso quando estava ao seu alcance, mas seria absurdo obrigar a você fazer o que é impossível.
Se Deus requer que você faça o que você não tem poder para fazer, é tirania. O que Deus requer está sob pena de morte eterna. Ele ameaça com uma penalidade infinita por você não fazer o que você não pode fazer e, assim, Ele é um tirano infinito. Esta argumentação, então, acusa a Deus de tirania infinita e, não só é insuficiente para a justificação do pecador, como é um terrível agravo para a sua ofensa.
Vamos mudar o caso, um pouco. Suponha que Deus requeira arrependimento de você, por falhar em fazer algo que você nunca teve capacidade natural para fazer. Você, então, precisa se arrepender por não fazer o que você era incapaz de fazer, ou ir para o inferno. Você não pode se arrepender por isso, nem Ele pode fazer você se arrepender.
O que é arrependimento? É condenar a você mesmo e justificar a Deus. Mas, sem capacidade, você não pode fazer nenhuma das duas coisas. Há uma impossibilidade natural de um ser racional, alguma vez, condenar a si mesmo por não fazer o que ele sabe que não pode fazer. E você não pode justificar a Deus.
Suponha que Deus tenha determinado que você se arrependa por não voar. Através de qual processo Ele pode fazer você acusar a si mesmo por não voar, se você tem consciência que não tem asas ou capacidade para voar? Se Ele pudesse induzir você à crença de que você tinha capacidade e fizesse você acreditar em uma mentira, então você poderia se arrepender. Mas que tipo de caminho é esse para Deus usar com Suas criaturas?
O que você pensa ao trazer esse tipo de desculpa? Você acha que nunca pecou? É uma estranha contradição, quando você admite que precisa se arrepender, mas diz que você não tem capacidade para se arrepender. Você precisa fixar o seu fundamento em um caminho, ou no outro. Se você acha que descansa nessa desculpa, venha com ela, pegue seu fundamento diante de Deus e diga: “Senhor, não vou me arrepender totalmente. Não estou sob nenhuma obrigação de me arrepender, porque eu não tenho a capacidade para obedecer a lei. Então, eu me declaro inocente, porque eu nunca pequei!”.
Outra desculpa que os pecadores dão para sua conduta é o seu coração iníquo. Esta desculpa é verdadeira, mas não é suficiente. As duas primeiras que mencionei teriam sido boas, se tivessem sido verdade, mas eram falsas. Esta é verdade, mas não é nenhuma desculpa.
O que é um coração iníquo? Não é o órgão do corpo que chamamos de coração, mas a afeição da alma, a disposição iníqua, os sentimentos iníquos, e as ações da mente. Se elas vão justificar a você, elas vão justificar ao próprio diabo. Ele não tem um coração tão iníquo quanto o seu?
Suponha que você tenha cometido assassinato, foi levado a julgamento e ofereceu esta defesa: “É verdade”, você diria, “eu matei o homem. Mas, aí, eu tive tamanha sede por sangue e tamanho ódio pela humanidade, que não posso evitar de cometer assassinatos, sempre que tenho oportunidade”.
“Terrível!”, exclamaria o juiz. “Ponham ele na cela e joguem fora a chave!”. Tal é a defesa do pecador ao alegar ter um coração iníquo para justificar o seu pecado. Deus o condenará por sua própria boca (ver Jó 9.20).
TRANSFERINDO A CULPA
As pessoas geralmente desculpam a si mesmas, apontando para a conduta dos cristãos. Pergunte a um homem por que ele não crê e ele apontará para a conduta dos cristãos como sua desculpa. “Esses cristãos”, ele dirá, “não são melhores do que ninguém. Quando eu os vir praticando o que pregam, então pensarei no assunto”. Ele está se escondendo por trás dos pecados dos cristãos. Ele mostra que sabe como os cristãos deveriam viver, por isto não pode desculpar seu pecado alegando ignorância.
Mas isso conta, para dar base à justificação? Admito que cristãos se comportam muito mal e fazem muitas coisas que são contrárias à sua fé. Mas esta é uma boa desculpa para você? Longe disto! Ela é, em si mesma, uma das mais fortes razões pelas quais você deveria ser salvo. Você sabe como os cristãos deveriam viver e como seriam um exemplo. Se você os seguiu por ignorância, ou não conheceu nada melhor, seria um caso diferente. Mas a sua declaração mostra que você sabe que eles estão errados e é a grande razão pela qual você deve exercer uma influência melhor do que a deles. Ao invés de segui-los e fazer errado, porque eles fazem, você precisa repreendê-los, orar por eles e tentar levá-los a um caminho melhor.
Então, esta desculpa é verdadeira, mas não é boa a ponto de justificar. Você apenas faz dela uma desculpa, para acusar a Deus insensatamente. Ao invés de limpar a si mesmo, você apenas adiciona uma culpa terrível e incriminadora a si mesmo.
Quem pode ser justificado pela lei? Quem a guardou? Quem tem uma boa desculpa por quebrá-la? Quem ousará ir a Deus e encarar o seu Criador com tais apologias?
JESUS OBEDECEU POR NÓS?
A justificação do Evangelho não é a justiça imputada por Jesus Cristo. Sob o Evangelho, pecadores não são justificados por terem a obediência de Jesus Cristo lançada em suas contas, como se Ele tivesse obedecido a lei por eles, ou em seu lugar. Geralmente as pessoas supõem que elas são consideradas justas aos olhos da lei, por terem a obediência, ou a justiça de Cristo imputada a elas.
Esta idéia é absurda e impossível, por esta razão: Jesus Cristo foi obrigado a obedecer a lei por Ele mesmo. Era sua obrigação amar ao Senhor Seu Deus com todo o Seu coração, alma, mente e força, e amar a Seu próximo como a Si mesmo. Se Ele não tivesse feito assim, isto teria sido pecado.
A única obra que Ele poderia fazer por nós era Se submeter aos sofrimentos que Ele não merecia. Isto é chamado Sua “obediência até a morte” e isto é que foi lançado em nossa conta. Mas, se Sua obediência à lei é lançada em nossa conta, por que somos chamados a nos arrepender e obedecer à lei por nós mesmos?
Deus exige um serviço triplo de obedecermos a lei e, então, que Jesus precisa sofrer a penalidade por nós e, depois, que precisamos nos arrepender e obedecer? Nada disto é exigido! Não é requerido que a obediência de outro deva ser imputada a nós. Tudo o que devemos ter é obediência eterna à lei da benevolência. Para isto, não pode haver nenhum substituto. Se falhamos, precisamos enfrentar a penalidade, ou receber um perdão gratuito.
Justificação pela fé não significa que a fé é aceita como uma substituta para a santificação pessoal, ou que a fé nos seja imputada ao invés da obediência pessoal à lei.
Algumas pessoas pensam que a justificação implica em que a santificação pessoal é deixada de lado e que Deus arbitrariamente livra da lei e coloca a fé como substituta. Mas este não é o caminho. A fé de Abraão lhe foi imputada por justiça, agindo por amor e tendo produzido santidade. A fé justificadora é santidade e produz santidade de coração e de vida. Ela é imputada ao crente como santidade, não como uma alternativa para a santidade.
A FÉ AGE POR AMOR
Alguns acham que a justificação pela fé é sem considerar boas obras ou santidade. Eles entenderam isso pelo que Paulo disse, quando insistiu tão veementemente na justificação pela fé. Mas é preciso lembrar que Paulo estava combatendo o erro dos judeus, que esperavam ser justificados por obedecerem à lei. Em oposição a esse erro, Paulo insiste que a justificação é pela fé, sem as obras da lei. Ele não quer dizer que boas obras não sejam necessárias para a justificação. Obras da lei não são boas obras, porque elas surgem de considerações legalistas, esperança e medo, e não da fé que age por amor.
Por outro lado, desde que uma falsa teoria rastejou para dentro da Igreja, Tiago entrou no assunto e lhes mostrou que eles não haviam entendido Paulo. Para mostrar isto, ele pegou o caso de Abraão: “Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque? Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou, e se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça; e: Foi chamado amigo de Deus. Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente” (Tg 2.21-24).
Esta epístola foi tida como uma contradição a Paulo e algumas das igrejas primitivas a rejeitaram por esta causa. Mas elas não perceberam o fato de que Paulo estava falando de um tipo de obras e Tiago de outro. Paulo estava falando de obras feitas por motivos legalistas. Mas, em todos os lugares, ele insiste em que as boas obras que brotam da justiça da fé são indispensáveis para a salvação. Tudo o que ele nega é que obras da lei, fundamentadas em motivos legalistas, tenham algo a fazer no assunto da justificação.
Tiago ensinou a mesma coisa, quando ele disse que os homens são justificados não por obras, ou por fé apenas, mas por fé junto com as obras da fé. Ou, como Paulo expressou, a fé age por amor. Por favor, lembrem-se que estou falando de justificação do Evangelho, que é muito diferente de justificação legalista.
A justificação do Evangelho, ou justificação por fé, consiste em perdão e aceitação por Deus. Quando dizemos que os homens são justificados pela fé e pela santidade, não queremos dizer que eles são aceitos pelo fundamento da lei. Mas eles são tratados como se eles fossem justos por conta de sua fé. Este é o método que Deus usa para justificar um pecador. Não que a fé seja o fundamento da justificação, porque o fundamento está em Cristo. Mas esta é a maneira pela qual os pecadores são perdoados, aceitos e justificados. Se eles se arrependem, crêem e se tornam santos, seus pecados passados serão perdoados por causa de Jesus.
A justificação sob o Evangelho difere da justificação sob a lei. Justificação legalista é uma declaração de inocência atual e de estar livre de culpa. A justificação do Evangelho é perdão e aceitação, como se a pessoa fosse justa, mas sobre outros fundamentos, que não sejam a sua própria obediência. Quando o apóstolo diz: “por obras da lei, ninguém será justificado” (Gl 2.16), ele usa justificação em um sentido estritamente legalista. Mas quando ele fala de justificação pela fé, ele fala não de justificação legalista, mas de uma pessoa sendo tratada como se fosse justa.
RESTAURADO À CONDIÇÃO DE FILHO
Quando um indivíduo é perdoado, a penalidade da lei é liberada. O primeiro efeito do perdão é deixar de lado a execução da penalidade. Isto confirma que a penalidade era merecida, mas a deixa de lado. Então, até onde a punição é concebida, o indivíduo não tem que temer à lei mais do que ele temeria, se nunca a tivesse transgredido. Ele está totalmente liberado. As pessoas justificadas por verdadeira fé, assim que são perdoadas, não precisam mais ser influenciadas pelo medo da punição. A penalidade é deixada de lado, como se ela nunca tivesse sido provocada.
O próximo efeito do perdão é remover todas as dívidas adquiridas como conseqüência da transgressão. Um perdão real remove tudo isso e devolve o indivíduo ao ponto que estava antes de transgredir. Sob o governo de Deus, o pecador perdoado é restaurado ao favor de Deus. Ele é trazido de volta a um novo relacionamento, fica diante de Deus e é tratado por Ele, até onde a lei é concebida, como se ele fosse inocente. Isto não supõe, ou declara, que ele seja realmente inocente, mas o perdão o restaura a um estado como se fosse.
Outra operação do perdão sob o governo de Deus é que o indivíduo é restaurado à condição de filho. Em outras palavras, isto o traz a tal relacionamento com Deus, que ele é recebido e tratado como um filho de Deus.
Imagine que o filho de um rei tenha cometido assassinato e foi condenado à morte. Um perdão não apenas o livraria da morte, como o devolveria ao seu lugar na família. Todos os filhos de Deus se desviaram e ficaram a serviço do Diabo. Mas, no momento em que são perdoados, eles recebem o espírito de adoção, são herdeiros selados de Deus e são restituídos a todos os privilégios dos filhos de Deus.
Justificação assegura toda a graça necessária para os resgatar totalmente das armadilhas do Diabo e das inumeráveis conseqüências do pecado. Se Deus fosse simplesmente perdoar você e, depois, deixá-lo sair sozinho do pecado, que utilidade esse perdão teria para você? Imagine uma criança que foge da casa de seu pai, se embrenha em uma floresta e cai em um buraco profundo. Quando o pai a encontra, não pode simplesmente perdoar a criança por ter fugido. Ele precisa tirá-la do buraco e levá-la para fora da floresta.
No esquema da redenção, seja qual for a ajuda que você precise, ela está garantida, se você crê. Se Deus Se responsabiliza por salvá-lo, Ele garante toda a luz, graça e ajuda necessárias para quebrar as correntes de Satanás e as complicações do pecado; e Ele o leva de volta para a casa de seu Pai.
SALVAÇÃO ATRAVÉS DO RELACIONAMENTO
Quando indivíduos são conduzidos a uma sensação de pecado e seus corações brotam em bondade, eles olham para suas vidas e se sentem condenados. Eles vêem que ela está toda errada, caída aos pés de Deus e dão a si mesmos a Jesus Cristo. Eles se alegram muito com a idéia de que pararam com o pecado.
Mas, rapidamente, eles começam a sentir a pressão dos velhos hábitos e das influências antigas. Geralmente eles se tornam desencorajados, quando eles vêem o que precisa ser superado. Se Deus o salvou, você apenas precisa se manter perto dEle e Ele o conduzirá. Você não tem que temer aos seus inimigos. Ainda que os céus trovejem, a terra trema e os elementos se derretam, você não precisa tremer ou temer. Deus é por você e quem pode ser contra você? (ver Romanos 8.31). “Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós” (Rm 8.34).
A justificação recruta os atributos divinos a seu favor, tanto quanto se você nunca tivesse pecado. Imagine um anjo santo enviado a uma missão de amor, em alguma parte distante do universo. Os olhos de Deus o seguem. Se Ele vê aquele anjo pronto a ser magoado de alguma forma, todos os atributos divinos o protegerão e o sustentarão imediatamente. Exatamente da mesma forma, todos eles são garantidos para a sua proteção, suporte e salvação. Embora você não esteja livre de permanecer no pecado e seja totalmente não merecedor do amor de Deus, mesmo que você seja totalmente justificado, o único Deus sábio e eterno está comprometido com a sua salvação. Você vai tremer e se acovardar com tal apoio?
Se um governo humano perdoa um criminoso, ele fica comprometido em protegê-lo como um cidadão, tanto quanto se ele nunca tivesse cometido um crime. Assim é quando Deus justifica um pecador. O apóstolo Paulo diz: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus” (Rm 5.1). Deus está ao lado dele, comprometido como seu fiel e eterno amigo.
A justificação do Evangelho difere da justificação legalista neste aspecto: se a lei justifica um indivíduo, isto se mantém apenas enquanto ele permanece inocente. Se ele transgride de novo, sua justificação anterior não o ajuda. Mas, quando o Evangelho justifica um pecador, não é assim: “Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1Jo 2.1).
Agora está valendo um novo relacionamento. O pecador é trazido para fora do domínio da aliança das obras e colocado sob a aliança da graça. Ele não mantém mais o favor de Deus por obediência absoluta e sem pecado. Se ele peca, ele não é empurrado novamente de volta à lei, mas recebe o benefício da nova aliança. Se ele é justificado pela fé – e assim é com um filho de Deus –, ele recebe o tratamento de filho e é corrigido, castigado, humilhado e trazido de volta.
Traduzido por René Burkhardt
Mais tecnicamente, isto é uma forma de defesa de uma acusação de crime. O indivíduo que é acusado admite o fato, mas apresenta uma desculpa, com a qual ele diz que tem o direito de fazer o que fez. Desta forma, se uma pessoa é acusada de assassinato, a declaração de defesa admite que ela matou o homem, mas alega que, ou isto foi feito em defesa própria, ou foi um acidente inevitável. Em ambos os casos, a declaração de defesa admite o fato, mas nega a culpa.
Pelos preceitos da lei “nenhuma carne será justificada”. Isto é verdade em ambas as formas de justificação.
Na primeira, ou forma geral de justificação, o ônus da prova cabe ao acusador. Neste caso, ele apenas precisa provar que um crime foi cometido em algum momento. Se isto é provado, o indivíduo é culpado. Deste modo, ele não pode ser justificado pela lei. Ele é considerado culpado. Argumentar que ele fez mais coisas boas do que más, ou que ele guardou a lei de Deus por mais vezes que a quebrou, não é válido. Para ser justificado neste caso, ele precisa provar que cumpriu cada ‘til’ e cada ‘vírgula’ da lei. Quem pode ser justificado pela lei, dessa forma? Ninguém!
Na segunda, ou forma técnica de justificação, o ônus da prova recai sobre aquele que faz a defesa. Ele admite o fato alegado e ainda precisa dar uma boa desculpa, ou fracassa. Dois pontos devem ser considerados: a alegação de defesa precisa ser verdade e precisa ser uma desculpa boa e suficiente, não um discurso frio que não soluciona o caso. Se ela não é verdadeira, ou é insuficiente, especialmente se é feita na corte ou no governo, ela apenas vai prejudicá-lo mais.
A NATUREZA DO PECADO
Os pecadores geralmente usam sua natureza pecaminosa como uma justificativa. Esta desculpa é boa, se ela for verdadeira. Se é verdade, como eles sustentam, que Deus lhes deu uma natureza que é pecadora em si mesma, então, esta é uma boa desculpa para pecar. Diante do céu e da terra, e no dia do juízo, esta será uma boa alegação de justificação. Deus precisa destruir o entendimento de todos os seres racionais do universo, antes que eles acusem a você por pecar, se Deus fez você pecar, ou se Ele deu a você uma natureza pecadora em si mesma.
Como a sua natureza pode ser pecadora? O que é pecado? Pecado é uma transgressão da lei. A lei diz que você precisa não ter a natureza que você tem? Isto é absurdo!
Esta doutrina não observa a diferença entre pecado e a ocasião do pecado. Os apetites do corpo e as tendências da mente e do corpo, quando fortemente excitados, se tornam as ocasiões do pecado.
Foi assim com Adão. Ninguém vai dizer que Adão tinha uma natureza pecaminosa. Mas ele tinha, por sua constituição, um apetite por comida e um desejo por conhecimento. Eles não eram pecaminosos, mas eram como Deus os fez. Eles eram necessários para o preparar a viver neste mundo como um sujeito do governo moral de Deus. Mas, sendo fortemente excitado, foi levado à submissão e isto se tornou a ocasião do seu pecado contra Deus. Essas tendências eram inocentes em si mesmas, mas ele se agarrou a elas de uma maneira pecaminosa. E esse foi o seu pecado.
Quando o pecador fala da sua natureza pecaminosa como uma justificação, ele confunde esses apetites inocentes e suscetibilidades com o próprio pecado. Fazendo assim, na verdade, ele acusa a Deus por ter dado a ele uma natureza pecaminosa. Na verdade, sua natureza é essencial para a ação moral. Deus a fez da melhor forma que poderia ser feita, perfeitamente adaptada às circunstâncias nas quais o homem vive. A natureza do homem está melhor adaptada para amar e obedecer a Deus, do que para odiá-lO e desobedecê-lO. Não está longe o dia em que se saberá se esta é uma boa desculpa ou não. Então você verá se pode encarar o seu Criador dessa forma (quando Ele o acusar de pecado). Você vai se virar e jogar a culpa de volta sobre Ele?
Você tem idéia de qual foi a influência que o pecado de Adão teve em produzir o pecado em sua posteridade? Ele os sujeitou a uma tentação mais agravada, mas, de forma alguma, tornou sua natureza pecaminosa em si mesma.
INCAPAZ DE OBEDECER?
Outra desculpa é incapacidade. Esta também é uma boa desculpa, se ela é verdadeira. Se os pecadores realmente são incapazes de obedecerem a Deus, esta é uma boa argumentação para justificação. Quando você é acusado de não obedecer às leis de Deus, você só precisa mostrar que Deus está exigindo algo que você não foi capacitado a fazer, e todo o universo inteligente vai declarar o veredito de “inocente”. Se você não tem poder natural para obedecer a Deus, eles precisam dar esse veredito, ou deixarem de ser pessoas razoáveis. A lei da razão declara que ninguém é obrigado a fazer aquilo que não tem poder para fazer.
Suponha que Deus tenha determinado que você desfaça algo que você tenha feito. Isto é uma impossibilidade natural. Você vai ser condenado por não fazer isso? Deus requer arrependimento de pecados passados, não que você os desfaça.
Suponha que era uma obrigação sua advertir uma certa pessoa sobre o seu pecado, mas agora ela está morta. Você ainda está sob a obrigação de advertir a essa pessoa? Não! Isso é impossível. Tudo que Deus pode requerer agora é que você se arrependa! Deus pode manter você responsável por não fazer isso quando estava ao seu alcance, mas seria absurdo obrigar a você fazer o que é impossível.
Se Deus requer que você faça o que você não tem poder para fazer, é tirania. O que Deus requer está sob pena de morte eterna. Ele ameaça com uma penalidade infinita por você não fazer o que você não pode fazer e, assim, Ele é um tirano infinito. Esta argumentação, então, acusa a Deus de tirania infinita e, não só é insuficiente para a justificação do pecador, como é um terrível agravo para a sua ofensa.
Vamos mudar o caso, um pouco. Suponha que Deus requeira arrependimento de você, por falhar em fazer algo que você nunca teve capacidade natural para fazer. Você, então, precisa se arrepender por não fazer o que você era incapaz de fazer, ou ir para o inferno. Você não pode se arrepender por isso, nem Ele pode fazer você se arrepender.
O que é arrependimento? É condenar a você mesmo e justificar a Deus. Mas, sem capacidade, você não pode fazer nenhuma das duas coisas. Há uma impossibilidade natural de um ser racional, alguma vez, condenar a si mesmo por não fazer o que ele sabe que não pode fazer. E você não pode justificar a Deus.
Suponha que Deus tenha determinado que você se arrependa por não voar. Através de qual processo Ele pode fazer você acusar a si mesmo por não voar, se você tem consciência que não tem asas ou capacidade para voar? Se Ele pudesse induzir você à crença de que você tinha capacidade e fizesse você acreditar em uma mentira, então você poderia se arrepender. Mas que tipo de caminho é esse para Deus usar com Suas criaturas?
O que você pensa ao trazer esse tipo de desculpa? Você acha que nunca pecou? É uma estranha contradição, quando você admite que precisa se arrepender, mas diz que você não tem capacidade para se arrepender. Você precisa fixar o seu fundamento em um caminho, ou no outro. Se você acha que descansa nessa desculpa, venha com ela, pegue seu fundamento diante de Deus e diga: “Senhor, não vou me arrepender totalmente. Não estou sob nenhuma obrigação de me arrepender, porque eu não tenho a capacidade para obedecer a lei. Então, eu me declaro inocente, porque eu nunca pequei!”.
Outra desculpa que os pecadores dão para sua conduta é o seu coração iníquo. Esta desculpa é verdadeira, mas não é suficiente. As duas primeiras que mencionei teriam sido boas, se tivessem sido verdade, mas eram falsas. Esta é verdade, mas não é nenhuma desculpa.
O que é um coração iníquo? Não é o órgão do corpo que chamamos de coração, mas a afeição da alma, a disposição iníqua, os sentimentos iníquos, e as ações da mente. Se elas vão justificar a você, elas vão justificar ao próprio diabo. Ele não tem um coração tão iníquo quanto o seu?
Suponha que você tenha cometido assassinato, foi levado a julgamento e ofereceu esta defesa: “É verdade”, você diria, “eu matei o homem. Mas, aí, eu tive tamanha sede por sangue e tamanho ódio pela humanidade, que não posso evitar de cometer assassinatos, sempre que tenho oportunidade”.
“Terrível!”, exclamaria o juiz. “Ponham ele na cela e joguem fora a chave!”. Tal é a defesa do pecador ao alegar ter um coração iníquo para justificar o seu pecado. Deus o condenará por sua própria boca (ver Jó 9.20).
TRANSFERINDO A CULPA
As pessoas geralmente desculpam a si mesmas, apontando para a conduta dos cristãos. Pergunte a um homem por que ele não crê e ele apontará para a conduta dos cristãos como sua desculpa. “Esses cristãos”, ele dirá, “não são melhores do que ninguém. Quando eu os vir praticando o que pregam, então pensarei no assunto”. Ele está se escondendo por trás dos pecados dos cristãos. Ele mostra que sabe como os cristãos deveriam viver, por isto não pode desculpar seu pecado alegando ignorância.
Mas isso conta, para dar base à justificação? Admito que cristãos se comportam muito mal e fazem muitas coisas que são contrárias à sua fé. Mas esta é uma boa desculpa para você? Longe disto! Ela é, em si mesma, uma das mais fortes razões pelas quais você deveria ser salvo. Você sabe como os cristãos deveriam viver e como seriam um exemplo. Se você os seguiu por ignorância, ou não conheceu nada melhor, seria um caso diferente. Mas a sua declaração mostra que você sabe que eles estão errados e é a grande razão pela qual você deve exercer uma influência melhor do que a deles. Ao invés de segui-los e fazer errado, porque eles fazem, você precisa repreendê-los, orar por eles e tentar levá-los a um caminho melhor.
Então, esta desculpa é verdadeira, mas não é boa a ponto de justificar. Você apenas faz dela uma desculpa, para acusar a Deus insensatamente. Ao invés de limpar a si mesmo, você apenas adiciona uma culpa terrível e incriminadora a si mesmo.
Quem pode ser justificado pela lei? Quem a guardou? Quem tem uma boa desculpa por quebrá-la? Quem ousará ir a Deus e encarar o seu Criador com tais apologias?
JESUS OBEDECEU POR NÓS?
A justificação do Evangelho não é a justiça imputada por Jesus Cristo. Sob o Evangelho, pecadores não são justificados por terem a obediência de Jesus Cristo lançada em suas contas, como se Ele tivesse obedecido a lei por eles, ou em seu lugar. Geralmente as pessoas supõem que elas são consideradas justas aos olhos da lei, por terem a obediência, ou a justiça de Cristo imputada a elas.
Esta idéia é absurda e impossível, por esta razão: Jesus Cristo foi obrigado a obedecer a lei por Ele mesmo. Era sua obrigação amar ao Senhor Seu Deus com todo o Seu coração, alma, mente e força, e amar a Seu próximo como a Si mesmo. Se Ele não tivesse feito assim, isto teria sido pecado.
A única obra que Ele poderia fazer por nós era Se submeter aos sofrimentos que Ele não merecia. Isto é chamado Sua “obediência até a morte” e isto é que foi lançado em nossa conta. Mas, se Sua obediência à lei é lançada em nossa conta, por que somos chamados a nos arrepender e obedecer à lei por nós mesmos?
Deus exige um serviço triplo de obedecermos a lei e, então, que Jesus precisa sofrer a penalidade por nós e, depois, que precisamos nos arrepender e obedecer? Nada disto é exigido! Não é requerido que a obediência de outro deva ser imputada a nós. Tudo o que devemos ter é obediência eterna à lei da benevolência. Para isto, não pode haver nenhum substituto. Se falhamos, precisamos enfrentar a penalidade, ou receber um perdão gratuito.
Justificação pela fé não significa que a fé é aceita como uma substituta para a santificação pessoal, ou que a fé nos seja imputada ao invés da obediência pessoal à lei.
Algumas pessoas pensam que a justificação implica em que a santificação pessoal é deixada de lado e que Deus arbitrariamente livra da lei e coloca a fé como substituta. Mas este não é o caminho. A fé de Abraão lhe foi imputada por justiça, agindo por amor e tendo produzido santidade. A fé justificadora é santidade e produz santidade de coração e de vida. Ela é imputada ao crente como santidade, não como uma alternativa para a santidade.
A FÉ AGE POR AMOR
Alguns acham que a justificação pela fé é sem considerar boas obras ou santidade. Eles entenderam isso pelo que Paulo disse, quando insistiu tão veementemente na justificação pela fé. Mas é preciso lembrar que Paulo estava combatendo o erro dos judeus, que esperavam ser justificados por obedecerem à lei. Em oposição a esse erro, Paulo insiste que a justificação é pela fé, sem as obras da lei. Ele não quer dizer que boas obras não sejam necessárias para a justificação. Obras da lei não são boas obras, porque elas surgem de considerações legalistas, esperança e medo, e não da fé que age por amor.
Por outro lado, desde que uma falsa teoria rastejou para dentro da Igreja, Tiago entrou no assunto e lhes mostrou que eles não haviam entendido Paulo. Para mostrar isto, ele pegou o caso de Abraão: “Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque? Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou, e se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça; e: Foi chamado amigo de Deus. Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente” (Tg 2.21-24).
Esta epístola foi tida como uma contradição a Paulo e algumas das igrejas primitivas a rejeitaram por esta causa. Mas elas não perceberam o fato de que Paulo estava falando de um tipo de obras e Tiago de outro. Paulo estava falando de obras feitas por motivos legalistas. Mas, em todos os lugares, ele insiste em que as boas obras que brotam da justiça da fé são indispensáveis para a salvação. Tudo o que ele nega é que obras da lei, fundamentadas em motivos legalistas, tenham algo a fazer no assunto da justificação.
Tiago ensinou a mesma coisa, quando ele disse que os homens são justificados não por obras, ou por fé apenas, mas por fé junto com as obras da fé. Ou, como Paulo expressou, a fé age por amor. Por favor, lembrem-se que estou falando de justificação do Evangelho, que é muito diferente de justificação legalista.
A justificação do Evangelho, ou justificação por fé, consiste em perdão e aceitação por Deus. Quando dizemos que os homens são justificados pela fé e pela santidade, não queremos dizer que eles são aceitos pelo fundamento da lei. Mas eles são tratados como se eles fossem justos por conta de sua fé. Este é o método que Deus usa para justificar um pecador. Não que a fé seja o fundamento da justificação, porque o fundamento está em Cristo. Mas esta é a maneira pela qual os pecadores são perdoados, aceitos e justificados. Se eles se arrependem, crêem e se tornam santos, seus pecados passados serão perdoados por causa de Jesus.
A justificação sob o Evangelho difere da justificação sob a lei. Justificação legalista é uma declaração de inocência atual e de estar livre de culpa. A justificação do Evangelho é perdão e aceitação, como se a pessoa fosse justa, mas sobre outros fundamentos, que não sejam a sua própria obediência. Quando o apóstolo diz: “por obras da lei, ninguém será justificado” (Gl 2.16), ele usa justificação em um sentido estritamente legalista. Mas quando ele fala de justificação pela fé, ele fala não de justificação legalista, mas de uma pessoa sendo tratada como se fosse justa.
RESTAURADO À CONDIÇÃO DE FILHO
Quando um indivíduo é perdoado, a penalidade da lei é liberada. O primeiro efeito do perdão é deixar de lado a execução da penalidade. Isto confirma que a penalidade era merecida, mas a deixa de lado. Então, até onde a punição é concebida, o indivíduo não tem que temer à lei mais do que ele temeria, se nunca a tivesse transgredido. Ele está totalmente liberado. As pessoas justificadas por verdadeira fé, assim que são perdoadas, não precisam mais ser influenciadas pelo medo da punição. A penalidade é deixada de lado, como se ela nunca tivesse sido provocada.
O próximo efeito do perdão é remover todas as dívidas adquiridas como conseqüência da transgressão. Um perdão real remove tudo isso e devolve o indivíduo ao ponto que estava antes de transgredir. Sob o governo de Deus, o pecador perdoado é restaurado ao favor de Deus. Ele é trazido de volta a um novo relacionamento, fica diante de Deus e é tratado por Ele, até onde a lei é concebida, como se ele fosse inocente. Isto não supõe, ou declara, que ele seja realmente inocente, mas o perdão o restaura a um estado como se fosse.
Outra operação do perdão sob o governo de Deus é que o indivíduo é restaurado à condição de filho. Em outras palavras, isto o traz a tal relacionamento com Deus, que ele é recebido e tratado como um filho de Deus.
Imagine que o filho de um rei tenha cometido assassinato e foi condenado à morte. Um perdão não apenas o livraria da morte, como o devolveria ao seu lugar na família. Todos os filhos de Deus se desviaram e ficaram a serviço do Diabo. Mas, no momento em que são perdoados, eles recebem o espírito de adoção, são herdeiros selados de Deus e são restituídos a todos os privilégios dos filhos de Deus.
Justificação assegura toda a graça necessária para os resgatar totalmente das armadilhas do Diabo e das inumeráveis conseqüências do pecado. Se Deus fosse simplesmente perdoar você e, depois, deixá-lo sair sozinho do pecado, que utilidade esse perdão teria para você? Imagine uma criança que foge da casa de seu pai, se embrenha em uma floresta e cai em um buraco profundo. Quando o pai a encontra, não pode simplesmente perdoar a criança por ter fugido. Ele precisa tirá-la do buraco e levá-la para fora da floresta.
No esquema da redenção, seja qual for a ajuda que você precise, ela está garantida, se você crê. Se Deus Se responsabiliza por salvá-lo, Ele garante toda a luz, graça e ajuda necessárias para quebrar as correntes de Satanás e as complicações do pecado; e Ele o leva de volta para a casa de seu Pai.
SALVAÇÃO ATRAVÉS DO RELACIONAMENTO
Quando indivíduos são conduzidos a uma sensação de pecado e seus corações brotam em bondade, eles olham para suas vidas e se sentem condenados. Eles vêem que ela está toda errada, caída aos pés de Deus e dão a si mesmos a Jesus Cristo. Eles se alegram muito com a idéia de que pararam com o pecado.
Mas, rapidamente, eles começam a sentir a pressão dos velhos hábitos e das influências antigas. Geralmente eles se tornam desencorajados, quando eles vêem o que precisa ser superado. Se Deus o salvou, você apenas precisa se manter perto dEle e Ele o conduzirá. Você não tem que temer aos seus inimigos. Ainda que os céus trovejem, a terra trema e os elementos se derretam, você não precisa tremer ou temer. Deus é por você e quem pode ser contra você? (ver Romanos 8.31). “Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós” (Rm 8.34).
A justificação recruta os atributos divinos a seu favor, tanto quanto se você nunca tivesse pecado. Imagine um anjo santo enviado a uma missão de amor, em alguma parte distante do universo. Os olhos de Deus o seguem. Se Ele vê aquele anjo pronto a ser magoado de alguma forma, todos os atributos divinos o protegerão e o sustentarão imediatamente. Exatamente da mesma forma, todos eles são garantidos para a sua proteção, suporte e salvação. Embora você não esteja livre de permanecer no pecado e seja totalmente não merecedor do amor de Deus, mesmo que você seja totalmente justificado, o único Deus sábio e eterno está comprometido com a sua salvação. Você vai tremer e se acovardar com tal apoio?
Se um governo humano perdoa um criminoso, ele fica comprometido em protegê-lo como um cidadão, tanto quanto se ele nunca tivesse cometido um crime. Assim é quando Deus justifica um pecador. O apóstolo Paulo diz: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus” (Rm 5.1). Deus está ao lado dele, comprometido como seu fiel e eterno amigo.
A justificação do Evangelho difere da justificação legalista neste aspecto: se a lei justifica um indivíduo, isto se mantém apenas enquanto ele permanece inocente. Se ele transgride de novo, sua justificação anterior não o ajuda. Mas, quando o Evangelho justifica um pecador, não é assim: “Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1Jo 2.1).
Agora está valendo um novo relacionamento. O pecador é trazido para fora do domínio da aliança das obras e colocado sob a aliança da graça. Ele não mantém mais o favor de Deus por obediência absoluta e sem pecado. Se ele peca, ele não é empurrado novamente de volta à lei, mas recebe o benefício da nova aliança. Se ele é justificado pela fé – e assim é com um filho de Deus –, ele recebe o tratamento de filho e é corrigido, castigado, humilhado e trazido de volta.
Traduzido por René Burkhardt
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