Ora, se antes de Deus dizer “Haja luz!”, Ele disse “Haja Cruz!” — fica claro que antes de ter havido qualquer mundo, fosse ele de qualquer dimensão, houve provisão antecipada pela possibilidade da perversão de qualquer criatura em toda a criação. Daí, conforme Paulo, a natureza gemer, na expectativa da chegada do dia de sua redenção!
Portanto, tem-se que entender uma única coisa: se a Cruz vem antes de tudo, tudo o que vem depois da Cruz já carrega o potencial de sua Graça. A Graça está na meta-existência de todas as coisas!
Logo, não há como fugir da seguinte conclusão: no universo que Deus criou, onde pôs criaturas feitas à Sua imagem e semelhança e trilhões de outras segundo a sua própria espécie, nenhuma Lei ou Código seriam os elementos de qualquer forma de redenção, pois a Lei da Graça pré-existe a todas as coisas, as boas e as más. Daí todas elas poderem cooperar, conjuntamente, para o bem de quem ama a Deus.
É o Cordeiro quem banca a Criação, pois Ele foi imolado antes de haver qualquer mundo!
É a Cruz que garante a Luz, pois é dela que vem a revelação de quem somos e de quem Deus é para nós em Cristo!
É o Logos que sustenta o que Existe, pois Nele, tudo subsiste!
E o Seu propósito é um Dia reconciliar Consigo mesmo todas as coisas. Ou seja, chamar de volta para Si tudo o que existe, existiu ou venha a existir, pois, tudo foi criado por meio Dele e para Ele!
“Houve tarde e manhã o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto, o sexto dia — o do homem —; e houve tarde e manhã o sétimo Dia... E o Senhor Deus descansou no Sétimo Dia. E nós também temos Descanso no Fim-Começo desse Novo Eterno Dia, que Já começou para todo aquele que crê”.
Nós nascemos à tarde, no Sexto-Dia, conforme o Gênesis. Portanto, o amanhã traz o nosso Amanhecer, segundo Deus.
Na seqüência da Criação, primeiro vem a tarde, depois a noite e então o amanhecer! Há sombras e noite no caminho. Mas o Dia termina na Luz da Manhã. No Dia de Deus o Ocaso não é a-caso, é apenas um intervalo entre uma luz que se desvanece — a tarde — e o início de uma Luz que não se desvanece — a manhã! E que vai brilhando mais e mais até ser Dia Perfeito! Afinal, o Apocalipse diz que na Nova Jerusalém não haverá Noite, nunca mais!
No princípio havia trevas e caos.
Então Deus disse: “Haja Luz”.
E houve tarde e manhã o primeiro Dia.
O Dia de Deus começa e caminha para o Amanhecer como Fim-Meta.
Ora, o primeiro milagre do Cordeiro — do Verbo encarnado, do Emanuel, do Cristo, Jesus!—foi demonstrar que Nele as lógicas são subvertidas. Ele deixa o melhor para o Fim, conforme Seu milagre no casamento de Caná.
Afinal, Sua própria experiência como o Encarnado, também obedeceu à mesma lógica: padeceu primeiro, foi glorificado depois; humilhou-se antes para ser exaltado depois. Esvaziou-se de Deus para ser Glorificado acima de todo Principado, Potestade e Poder.
Essa é também a lógica do Logos:
“Se o grão de trigo não morrer, fica ele só; se porém morrer, produz muito fruto”.
“Semeia-se em corrupção, colhe-se em incorrupção; semeia-se corpo natural, ressuscita-se em corpo espiritual”.
Tudo que veio Dele, um Dia vai voltar para Ele!
E sabe por que isto é possível?
O Cordeiro de Deus foi imolado e seu Sangue foi conhecido antes da Fundação de todas as Fundações!
O Cordeiro é a Pedra Angular de toda a Construção, A começar da Criação de todas as coisas e prossegue sendo a Pedra de Esquina até o Dia da Reconciliação de todas as coisas Nele.
A Cruz vem antes de todas as Coisas, e, portanto, também antes de todas as Quedas. Só houve a possibilidade de haver Liberdade — incluindo os terríveis riscos de haver Quedas — porque, antecipadamente, já havia o Cordeiro e Seu Sangue conhecido com efeito antes da fundação do mundo — sim! Antes de todo e qualquer mundo.
“Haja Cruz”— foi o grito que nenhuma criatura ouviu ser bradado, pois, Quem o bradou estava só!
Esse clamor do Deus agonizante antes de parir Seus mundos — todos eles —, nenhuma criatura ouviu. Nem mesmo os anjos — os filhos de Deus que alegremente viram e cantaram a sabedoria de Deus na Criação — ainda não existiam para testemunhar esse Brado.
Afinal, eles vieram depois dele. Daí a Cruz ter sido e ser para eles um mistério, aliás, o Mistério!
Era um entendimento de Deus com Deus. E ninguém existia para ser Seu conselheiro. Daí ter sido também o Grande Mistério que nem Lúcifer conhecia.
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparas-te?”—fez-se ouvir antes que qualquer criatura ou criação experimentasse consciência de queda e desamparo!
Pensar diferente é crer numa Cruz que veio depois, ou seja, sendo apenas uma tentativa divina de remendar Seus próprios erros como Criador e Sua culpa ante a Criação.
Quando se diz que o Cordeiro de Deus foi imolado antes da criação do mundo, diz-se também que a provisão da Graça é a única Liberdade possível na Terra, pois, essa certeza do Amor Gracioso, que se entregou pelos equívocos e pecados da Criação antes dela existir, carrega consigo uma profunda libertação da culpa de ser e de todas as fobias existenciais que ela patrocina.
Estou convencido de que somente vivendo com essa consciência em fé é que se pode experimentar a libertação de todo medo de ser, viver, existir e, também, pode-se assumir a própria consciência como o Santo dos Santos de cada indivíduo na Terra.
Aqui começa a liberdade. Nenhuma liberdade que não nasça da consciência em fé de que este universo tanto é fruto do Amor de Deus quanto também de Sua entrega Sacrificial pela Criação pode ser chamada de liberdade. Isto porque antes de qualquer Criação existir a Cruz foi Erguida!
Ora, é isto que pode nos fazer viver como pecadores livres do pecado-culpa de ser, que é a mais latente de todas as culpas que o ser humano conhece.
O Perfeito Amor lança fora o medo!
Só se perde o medo de ser quando se perde o medo de Deus!
E isto só acontece em plenitude mediante a Liberdade que nasce da Graça Pré-existente de Deus, na entrega do Cordeiro Eterno, que é Cristo Jesus, o Nosso Senhor!
No dia em que essa consciência em fé nos possui, acontece o funeral religioso da Teologia Moral de Causa e Efeito!
“O Cordeiro Imolado Antes da Fundação do Mundo”— é, para mim, a afirmação apostólica cujas implicações incidem sobre todos os aspectos de qualquer que seja a compreensão cristã da Existência!
Depois dela fica mais fácil entender como e porque Nele tudo subsiste, sem que isto implique em indiferença divina para com Sua Criação ou em solidariedade divina para com o mal que passou a habitar a Criação.
Do contrário, por que seria Ele a Fonte Criadora e Mantenedora de Todas as Existências, sendo Ele, ao mesmo tempo, o Criador Eternamente Separado de considerável parte de Sua própria Criação? E isto enquanto a alimenta com energia de existir que nem sempre é usada na direção da Vida?!
Num universo onde existe o mal, a inclusão dele como dependente da energia vital que
procede de Deus só faz sentido se o Cordeiro tiver sido imolado antes que as partes que se desintegraram de sua comunhão com o Criador houvessem sido criadas.
Isto porque é preciso diferenciar o Criador de toda e qualquer escolha que, na Criação, tenha implicado em Queda. Digo isto ao mesmo tempo em que sei que não é possível fazer tal diferenciação completamente. E por que? É que fora de Deus não existe nada absoluto. Ora,algo é Absoluto quando é Auto-Existente. Todavia, há um só Deus e Pai de todos, que age por meio de todos e está em todos!
Portanto, qualquer criatura existe em Deus, mesmo que sua livre escolha seja existir sem a Vida de Deus agora ou para sempre. Isto também é liberdade! E é sua mais terrível manifestação! A escolha pelo inferno de ser!
O Cordeiro imolado antes da fundação do mundo é também a garantia de que qualquer
criatura pode escolher existir eternamente danada, no inferno de suas resistentes escolhas enganadas. Afinal, até para que se tenha a liberdade de escolher não-ser-de-Deus tem-se que usar das graças naturais que Dele provêm a fim de nos manter existindo!
Daí haver a Hora chamada de o Grande Dia da Ira do Cordeiro. A Graça oferecida desde antes da fundação do mundo, em sendo pisada pelos pés conscientes da indiferença, gera, ao final da presente era da consciência caída, o Dia do Juízo, onde Aquele que deu — e deu tudo — pela Criação, haverá de se levantar em seu favor e contra os seus espoliadores conscientes e insensíveis.
O Grande Dia da Ira do Cordeiro é, paradoxalmente, o Dia da Graça para a Criação. É o juízo sobre os que devoram a Terra, seus recursos, suas criaturas, seus oceanos, fontes de águas, suas maravilhas, e suas produções naturais. É também o Dia da Vingança sobre as Civilizações que existem para fazer com que sua cidadania na Terra produza cataclismos gerados pela bomba da cobiça, pelo des-amor aos recursos do Planeta e por causa de sua tirania sobre as demais criaturas — humanas ou não!
Isto porque, como a Cruz vem antes da Criação e como as criaturas gemem esperando
o Dia da Redenção, então, pode-se dizer que toda a criação sente dores e agonias latentes pela Graça que pode redimir a toda criatura.
A última visão apocalíptica é, todavia, uma Comunhão Cósmica de todas as coisas e de
todos aqueles que escolheram-tendo-sido-escolhidos em Cristo.
Assim digo, porque não gostaria que você esquecesse que caminhamos para a Nova Jerusalém, onde não há santuários e onde até as folhas da Árvore da Vida são para a cura dos Povos.
A Nova Jerusalém não é religiosa, pois, nela não há santuários, portanto, não é exclusivista. Afinal, ela recebe gente de todos os tempos históricos, conforme nos disse Jesus quando afirmou que viriam “muitos do Norte, do Sul, do Leste e do Oeste, e que tomariam lugar à mesa com Abraão, Isaque e Jacó ”— como a rainha do sul que reconheceu a Graça na sabedoria de Salomão ou os Ninivitas que creram na pregação de Jonas—, enquanto os que viveram da presunção religiosa de serem os filhos do Reino seriam deixados de fora.
A Nova Jerusalém é a Cidade Iluminada pelo Cordeiro. É a Cidade que tem Portas Abertas em todas as direções. É também a Cidade das Individuações Absolutas em Cristo, que pode se manifestar como uma “pedrinha branca e um nome novo que ninguém conhece, exceto aquele que o recebe”. E, além disso, essa individuação é-será-também-como a revelação-segredo do novo nome de Jesus e que só o Pai conhece, o qual será dado a conhecer a todo aquele que perseverar em Sua Graça.
Extraído de “Sem Barganhas Com Deus” (1º Prólogo – pgs. 267 a 274), de Caio Fábio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário